sábado, 8 de outubro de 2011

Chuva, Adele e lembranças

Abriu a carteira. “Hoje pode deixar que eu pago”. O que há de errado nisso? Pensei no tempo se fechando lá fora. E de tudo que já tinha fechado aqui dentro. Olhei atentamente à carteira e reconheci aquela foto, lembrei daquele dia. Oito reais que registraram um momento... Já faz tanto tempo assim? Eu disse daquela vez que eu pagava. Mas quem realmente pagou por todos aqueles erros?

Olha aqui, reconhece? Hoje você substitui essa pessoa. Você veio para preencher o vazio que até então se encontrava, e permanece... Na lembrança? Grudado na carteira. Feche a conta pra gente, por favor. E não deixe essa carteira aberta por tanto tempo. Sabe? As portas algumas vezes se fecham, outras vezes nós a tacamos na cara de quem merece. Lacramos o cômodo. Sabe o que acontece com uma casa limpa? Se fecharmos e não deixarmos ninguém entrar, ela se suja... Sozinha. De novo. E aí precisamos de nova foto, de novos personagens... De instinto. Incômodo.

Me vê um café. É sábado à tarde e há tanto pra conversar... Você poderia estar sentado nessa cadeira, sabe? O que houve com todos aqueles planos? Descansam em paz... Eu espero que você encontre um lugar melhor aí desse lado. Porque você sabe... Não está mais entre nós. Mas faz falta. E dói. Por que você se foi? Porque lacrou a porta pra um mundo que não pertence a ninguém? Hoje você deixou de existir. Mas está lá grudado... Na memória, na carteira, na contracapa da agenda. Seu rosto desfigurado ainda permanece pra dizer que por um mísero segundo foi de verdade. E então morreu.

Porque a gente morre para renascer... E nem sempre do mesmo lado. Nem sempre na mesma vida.

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