domingo, 30 de maio de 2010

Voltando atrás

Achei que era brincadeira, coisa de gente velha falar que o tempo encurta com o passar dos anos. Mentira deslavada afirmar que passar manhãs e tardes no colégio iria fazer falta. Quem foi que disse que eu precisaria da tal da física para o curso que eu pretendia? Ahh, quando eu fizesse 18 anos, tudo seria diferente. Seria sim, tudo mais bonito, eu seria gente grande. Poderia dirigir e entrar nos lugares que eu quisesse. Estudar para a faculdade que eu escolhi depois de tanta matéria chata no ensino médio. Uniforme? Nunca mais teria de usar, o do colégio não. As amizades continuariam as mesmas, melhor ainda, aumentaria o ciclo de amizades. O sonho estava prestes a se concretizar com a minha formatura do “terceirão”. Outro caminho, outras histórias. Esperei tanto para poder dizer que... A decepção veio com os anos adiante meus 17.
Se estou com quase-dezenove e cabeça de sessenta, eu não sei dizer, mas preciso imediatamente de uma fórmula que transforme as 24h em 36h, no mínimo. O sono nunca foi um bem tão precioso, e tão raro. Custo acreditar que sinto falta de manhãs e tardes, vestindo o uniforme azul marinho e branco com a mochila repleta de apostilas nas costas. Hoje, se pudesse, ficaria até noites em claro no colégio estudando física, química e matemática.
Passaram-me uma rasteira. Por que esperei tanto os 18? Queria tanto voltar aos 14. É sempre assim? Esperamos chegar a um ponto para voltarmos? Triste pensar que voltar, a partir de então, apenas por fotos espalhadas pela cama, lendo as provas antigas feita às pressas porque não tinha estudado. Saudade aperta o peito ao passar por aquela mesma calçada, ver que nada lá dentro mudou... Mas que não posso mais desfrutar daquele ambiente. Só restam as lembranças.
Dirigir nunca me pareceu tão necessário. Uma necessidade, e não uma diversão como pensava que seria. E a carteira ainda não veio. Apesar de tudo, não tenho pressa. São tantos acidentes, tantas histórias que ouvimos... A imprudência no trânsito não é mais da boca pra fora, é real e faz inúmeras vítimas. O hábito de ler isso a todo instante, fez do absurdo, cotidiano.
Enfim, as amizades. Ah, com 18, festaríamos horrores! Sairíamos todos os finais de semana, nos encontraríamos em barzinhos tomando cerveja legalmente (agora não precisava pedir para alguém “de maior” comprar!) e cada um compartilharia do universo universitário que agora vivemos. Até a formatura, sairíamos sabendo, além do próprio curso, mais uns três ou quatro. A certeza de que a amizade vingaria minguou. É claro que o carinho e a consideração permaneceram intactos... Mas o contato, quanta diferença. Trocamos as baladas por raros telefonemas. Os bares e a cerveja por um recado de Orkut a cada... Sei lá quanto tempo. A desculpa? Esse mesmo, o tempo – ou a falta dele. Ampliamos a rede de contatos sim, mas superficialmente. Conversa na hora de tomar um café e debater trabalhos que deveriam ser feitos com antecedência e que foram realizados às pressas e de última hora.
O pior de tudo não é somente a saudade que fica da época em que achávamos o cúmulo estudar três capítulos do livro de história. “É muito conteúdo!”. Reclamar faz parte. Hoje reclamo sim, reclamo de como poderia ter aproveitado mais a melhor fase da minha vida. Reclamo de como a postura que assumo hoje é a da gente velha que eu zombava anteriormente. Pior do que assumir a postura que eu não queria e nutrir o perfil que eu não esperava, é que a tendência depois dos 18 é piorar. Dali a pouco sentirei falta do tempo em que tinha tempo para sentar e relembrar histórias, rever fotografias e dizer que se pudesse, viveria tudo de novo.
A nostalgia tomou conta do meu domingo. Ah, como eu odeio domingos.

domingo, 23 de maio de 2010

Um dia eu aprendo.

Sexta-feira (21), Trip, Ana brincando - de novo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Mais uma...

E a garota, empolgada demais pela tarde enlameada que passara entre rabanetes, alfaces e quiabos, fora mostrar ao professor a recompensa disso tudo: um all star coberto de lama. A tal da terra que ora é nomeada de roxa, ora vem a ser vermelha – não importava – fazia presença no conjunto da obra. Suja, mas satisfeita. E como se fosse uma censura, mas inevitavelmente um conselho de pai, recebeu em resposta:
- Vai se acostumando, essa é a vida que um fotógrafo leva.
Como se não bastasse a empolgação típica, ela já sabia que aquela resposta era suficiente para fechar o dia de maneira que a deixasse mais feliz – como se fosse possível. Essa era a vida que escolhera. Entre lama, lentes e histórias.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

E você é?

Era tarde da noite já, ela estava desiludida demais para continuar em casa. Saiu às pressas antes que alguém da casa acordasse – tinha esquecido até que morava sozinha desde o início do ano. Condenava o fumo, achava-o ridículo até, mas inexplicavelmente precisava dar um trago. Dirigiu-se até a loja de conveniência mais próxima – a que estava aberta – e pediu um maço do cigarro mais barato, juntamente com um isqueiro verde – cor da esperança que lhe faltava. Enquanto o atendente obedecia fielmente às suas ordens, ela abaixou-se para amarrar o all star desbotado.
Pagou e deu o fora dali, precisava espairecer urgentemente. Buscou em vão por estrelas que ilustrassem aquela noite tenebrosa, decepcionando-se mais uma vez em não ser atendida. Será que era tudo culpa dela? Não se encaixava em lugar algum. Não tinha um grupo de amigos fixo, não tinha uma convivência harmoniosa com os vizinhos, já não se identificava com a universidade e, pudera, não tinha perfil para doutrinas religiosas. Sentou-se ao meio fio, três quadras à frente da lojinha. A cidade estava terrivelmente parada. Domingo à noite, sabe como é, um tédio. Todos em casa, assistindo ao final do Fantástico, quiçá Big Brother. E ela ali, sem chão, sem estrelas no céu, perdida completamente em pensamentos não fundamentados.
Olhou o cigarro na mão direita, encarou-o com nojo de si própria. Aquela cena não se encaixava. Era perigoso andar na rua àquele horário. Era perigoso fumar. Era perigoso beber. Tudo tinha um falso marketing que indicava perigo. Alguém já tinha avisado que era também perigoso tentar viver? Ninguém saía vivo dessa aventura, esse decoreba todos já sabiam bem. As músicas do mp3 já nem pareciam seleção dela. Ansiava por novidades que tardavam a chegar. Chorou. Extravasou o aperto no peito com as lágrimas insistentes em saltar daquele abismo. Tossiu, não estava acostumada com a fumaça e a nicotina. Resolveu que daria mais uma volta, daria um close na cidade que ninguém mais sonhava em ver: quieta, com uma beleza singular. Mal iluminada, mesmo assim, bela.
Foi até a praça da igreja central, sentou-se na gigantesca escadaria de mármore. Gélido. O vento começava a soprar anunciando a mudança de estação. Ela nunca tinha gostado do verão mesmo. Mas será que o outono combinaria com o estado de espírito incombinável que ela tinha consigo? Friccionou os dedos nas têmporas, como se sofresse de um mal que não era dela – a enxaqueca – quando o susto apoderou-se das emoções.
- Ahn... Olá.
Instintivamente ela deu um salto para trás, jogando uma das pernas à frente como se aquilo pudesse parar a figura que estava posta – enganou-se, não à frente, mas ao lado. Um indigente, desses moradores de ruas drogados e sem previsão de vida abundante. Esperava que este estivesse cheirando a cachaça barata, mas não. Forçou os olhos naquele breu para tentar decodificar a imagem que chamara a sua atenção. A barba um tanto quanto Marcelo Camelo, os cabelos até pra baixo da orelha formando cachos não uniformes. O olho não conseguia distinguir, mas pareciam castanhos. Grandes cílios. Riu da reação já esperada – os dentes surpreendentemente em perfeito estado.
- Oi. – disse, assumindo uma postura de poucos amigos.
- Posso me sentar?
Ela só se deu ao trabalho de olhar o degrau que dividiria com aquele estranho. Ele entendendo o silêncio como um “sim”, ocupou seu lado esquerdo na escada.
- Quer? – ofereceu asperamente um dos cigarros que completavam o maço.
- Não fumo. Obrigado.
- Não isso, não é? – disse sem pensar.
- Porque é que as pessoas julgam as outras pela aparência? Tenho cara de maconheiro, moça?
- Desculpe, não foi a intenção ofender.
- Me chamo Eloím. Você é?
- Gabriela.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

"Tá pensando que isso é mercadoria?"

Para o juiz Costa, é impossível não se apegar à criança adotiva

Renê Pereira da Costa, 60, juiz da Vara da Infância e Juventude de Maringá, retrata os impasses no processo de adoção

Era início da semana, segunda-feira, dia 19 de abril, sob um céu “risonho e límpido”, que a entrevista tinha hora para começar: 13h30. Bastou entrar no Fórum de Maringá e questionar “Onde fica o gabinete do juiz Renê?”, que o caminho rapidamente foi indicado: “Segue reto, vira à direita e vira à direita de novo”.
O comando pareceu funcionar, afinal, naquele ambiente um tanto quanto escuro, com pessoas transitando de um lado para o outro, duas fileiras de bancos se encontravam diante da plaquinha acima da porta amarelada: “Juiz de Direito Infância e Juventude”. Não demorou muito para reconhecer o entrevistado chegando. A passos largos e um cumprimento de cabeça, Costa entrou no gabinete sem falar nada. Instantes depois o assessor aparece à porta, pedindo para entrar.

A ideia de antipatia que fizera anteriormente diluiu-se logo no primeiro contato pessoalmente: um aperto de mãos e uma sequência de perguntas com respostas bem embasadas. Renê Costa formou-se pela então Faculdade de Direito de Curitiba em 1973 e é responsável pela Vara da Infância e Juventude de Maringá desde 1997. Por trás da postura rígida e séria, esconde um passado de muito suor para estar onde está: foi apresentado ao trabalho logo cedo, com 8 anos colhia café e aos 10 pintava automóveis. Conciliou a origem humilde com os estudos. Mais do que correr atrás de oportunidades, o renomado juiz construiu a própria oportunidade.

Como lidar com a situação quando não existe adaptação da criança à família adotiva?
É um costume meu de fazer: quando alguém vem adotar uma criança, de zero a 1, muitos casais, principalmente os jovens, pensam que a adoção é só alegria e não é. Porque a criança chora, tem dor de barriga, dor de ouvido, tem uma série de dificuldades. O que acontece: não existe uma adaptação. Colocamos um período em torno de seis meses de observação, em que o casal, entre o pedido de adoção e a guarda provisória que concedemos, convive com a criança para ver se é realmente isso que eles pretendem.

A maioria das pessoas prefere adotar bebês. A preferência é por conta da adaptação ou tem outro motivo?
A maioria prefere bebê, de preferência de um mês de idade, justamente para adaptação e a educação adequada, porque é a criação que vai resolver. Uma criança com 5, 6 anos, já tem alguns costumes. No café da manhã, se a criança prefere café ou chá, é um costume. São manias adquiridas com o tempo, que pegam sem saber. Agora, se pega um recém-nascido, vai moldá-lo de acordo com a família, com os costumes, de ir à igreja ou não ir à igreja, ter uma vida farta ou não, ter café da manhã. Enfim, os costumes básicos que fazem a diferença. Quando você pega uma criança para doutrinar, ela adere a todos os costumes, entra no que você gosta.

É aconselhável o casal falar para a criança que ela é adotada?
Tem de falar. Entre os 5 e 8 anos de idade, é preciso conversar e explicar que é filho do coração. Quanto menos criticar a mãe biológica, melhor. Falar que ela abandonou não traz benefício nenhum para a criança, nem para a convivência. É prejudicial. É evidente que lá na frente [a criança] vai conseguir descobrir e acaba complicando. Se falar que é filho do coração, ela acaba entendendo. O importante na adoção é que damos um encaminhamento da criança para um casal. Às vezes a criança leva sorte, nasceu pobre, e acaba em uma família rica.

E quando o casal se interessa em adotar a criança e a família biológica quer a criança de volta?
Não tem como reverter, porque antes da adoção a mãe ou os pais chegam aqui e declaram que não têm interesse nem psicológico, nem financeiro e realmente não querem a criança, querem desistir do pátrio poder ou, então, a Justiça, o Ministério Público, entra com uma ação de destituição do pátrio poder. Destituindo, o poder fica disponível para a Justiça, e não tem como os pais irem procurar a criança. Primeiro porque não sabem com quem está, ocorre em segredo da Justiça, troca de nome, de registro, desaparece.

Caso a criança adotada queira conhecer os pais biológicos, pode?
Só se os pais adotivos falarem, a Justiça jamais vai dizer. Eles podem deixar conhecer, mas pai é quem cria. Não existe na cabeça de uma criança que foi criada por um casal, depois de 15 ou 20 anos, falar que quer voltar para os pais biológicos. Os outros pais são estranhos à relação dela, não vai conseguir colocar na cabeça que vai voltar. Visitar é até normal. Se os pais adotivos pedem para visitar, a gente pode abrir o registro. Isso acontece por curiosidade, para conhecer. Se tiver uma razão, “olha, eles abandonaram você”, é pior ainda, não pode abrir. Mas tem gente que entrega o filho e sai chorando. Muitas adoções são de moças que vêm de outros Estados, chegam aqui e ficam grávidas, não podem chegar de barriga para o pai, então ficam até ganhar o bebê e entregam para a adoção.

Como funciona o processo em casos de adoção por casais homossexuais?
Se o casal vive bem, você entrega, mas a primeira coisa no processo de adoção se chama habilitação, que é o momento em que você chega aqui com os documentos pessoais, endereço, a ficha geral e inclusive empregatícia. Vamos analisar a idade. Por exemplo, como vou entregar uma criança para alguém com 55 anos? A hora que a criança precisa dele, a pessoa não tem condições de educá-la, pelo menos da maneira que deveria ser, de correr atrás e ser participativo. O juiz tem de analisar todos esses aspectos objetivos e subjetivos da lei, para que, se indeferir o pedido, ele possa agravar ou recorrer. Mas é um direito do juiz de reprovar, não é o normal da Justiça liberar. Basta indeferir a habilitação, porque, se não tiver, não pode adotar.

Há crianças que vão e voltam várias vezes para adoção. Não fica a impressão de que elas fazem parte de um comércio?
Eu já falo assim, "Você tá pensando que isso aqui é mercadoria?". A pessoa chega aqui, pega, olha, usa e depois devolve? Eu “boto pra quebrar!”. Teve um caso de uma criança que estava com o casal havia uns três ou quatro anos. Depois eles resolveram que não queriam mais e a criança começou a sofrer. Decretei a prisão dos dois e falei que eles ficariam presos enquanto a criança estivesse chorando. Enquanto ela não estiver bem, em condições normais, vocês ficam detidos, “Ah, mas e a arbitrariedade?”. Faz um habeas-corpus e manda para o tribunal. “Procura teus recursos, porque o senhor está preso”. Prendi os dois, até que a criança se adaptou direitinho. Mas enquanto ela estava sofrendo, eles também estavam. Tem hora que você tem de jogar duro, porque ninguém é obrigado [a adotar]. Você faz o cadastro se quiser, pega a criança se quiser. Agora, pegou tem de ter responsabilidade para criar da melhor maneira possível, ter o mesmo amor que você tem a um filho. Até para um gato, um cachorro você tem amor e em uma criança que você pega ali, recém-nascida, fica acompanhando, não é possível que não adquira amor de pai, de criá-la, educá-la e querer um bom futuro para ela.
Eu tenho um sonho, no passado, uns oito anos atrás, tentei em Maringá, não um processo de adoção, mas eu queria casais para pegar crianças no abrigo, escolher uma criança, sem precisar levar pra casa, só acompanhá-la, dar uniforme escolar, acompanhar na escola, ver como está o desenvolvimento, se precisar de médico, dar um plano de saúde, fazer um acompanhamento até uns 16, 18 anos de idade, para ser um cidadão. Na época eu fiz uma campanha na mídia, TV, rádio, jornais e consegui um casal. Um! Ninguém quer saber. A grande verdade funciona da seguinte maneira: o que está sobrando para mim, está faltando para alguém. Deus não fez as coisas assim, Deus fez todo mundo igual. Eu posso ter mais que você, porque eu já estudei, tenho mais idade, tenho um pouco mais. Não posso ter além disso. Todos têm que ter comida, remédio para dor, uma escola para estudar. Tem que ter as mesmas condições, todo mundo tem direito.
As pessoas não se preocupam, de maneira nenhuma, com os semelhantes. Um casal que tem um filho, dois filhos e perde o emprego, por exemplo. Ele tem que comer, a mulher tem que comer, mas antes, as crianças têm que comer. Ele às vezes comete um furto, entra para a criminalidade, para cobrir uma situação que na realidade cabe ao Estado, ao Município, à sociedade. Supri-la! E não é isso que acontece, tem gente que passa dificuldade.

Como anda o processo de adoção de crianças em Maringá?
Para o processo de adoção, existe um livro para as pessoas interessadas, eu falo pessoas porque não há necessidade de ser casal, são pessoas. Também é um livro de crianças disponíveis para adoção. Hoje nós temos mais ou menos na lista de espera em torno de 120 pessoas e crianças disponíveis para adoção: nenhuma.
Fazemos por ano em Maringá em torno de 10 a 12 adoções e a demanda está em torno de 120. Se as coisas caminharem do jeito que está, as pessoas que estão no final vão demorar de oito a dez anos para a adotarem.

Com a nova lei, o senhor acha que vai facilitar o processo de adoção?
Facilita porque fica no cadastro nacional e as pessoas têm de escolher onde querem se cadastrar. Se a pessoa se cadastrou em Maringá, não pode se cadastrar em Sarandi, em Manaus, São Paulo, então é um cadastro só, porque se sair daqui e for se cadastrar em outro lugar vai bater com a lista de existência. Então veio facilitar justamente por isso, antes, as pessoas para agilizarem o processo, faziam cadastro em pelo menos dez comarcas, então muita gente ficava impossibilitada de fazer adoção. Uma criança daqui saía para São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul. Hoje as crianças de Maringá ficam em Maringá, porque os cadastrados são daqui, 80% residem na comarca. Nesse sentido, o cadastro nacional foi importante, porque eu não posso de maneira nenhuma suprimir alguém. Quando você tem uma criança disponível e entra no cadastro nacional, da comarca, a classificação sai na hora. Na lista dos 20 primeiros, você pega o primeiro e vê se ele tem interesse, se não tiver, vai para o segundo. Não tem perigo nenhum da pessoa se preocupar de que alguém vai passar na frente.

E quando existe caso de casais estrangeiros que querem adotar uma criança brasileira?
A adoção de casais estrangeiros existe na comarca há mais de 11 anos e eu nunca vi nenhum, não tem. A adoção internacional de uns 15 anos para cá acabou, porque hoje tem um conselho que se chama CEA (Conselho Estadual de Adoção), que é no tribunal, onde é composto pelo presidente do tribunal, vice-presidente, alguns juízes e promotores, psicólogos, psiquiatras e pedagogos. Esse grupo faz uma análise, e hoje para liberar alguém para a adoção internacional, tem que consultar todas as comarcas, se não tem ninguém nacional interessado. Se tiver, a prioridade é nacional. Por essa razão que a adoção internacional ficou sem condições no Brasil.

Alguns casais brasileiros se interessaram em adotar as crianças do Haiti, e a Unicef tem uma postura que só libera em último caso. Essa é uma postura correta?
Nem todas essas crianças estavam disponíveis para adoção. Estavam em dificuldades de sobrevivência. Alguns os pais morreram, mas outras os pais não morreram: estavam em dificuldade financeira, de sustento. Eu acho, por exemplo, que a posição seria diferente, como trazer essas crianças aqui e colocar nos abrigos que existem. Aqui em Maringá existe um monte de abrigos, e faltam crianças para abrigar. Nós temos espaço, como tem espaço em todas as comarcas do estado e do Brasil. Então o assessoramento para o Haiti é no sentido de colocar essas crianças aqui, não para uma adoção. Se pudesse, iria para a adoção aqueles que realmente estão disponíveis, sem os pais biológicos ou algum parente que possa cuidar, porque primeiramente no processo de adoção, procura-se deixar a criança no vínculo familiar. Se os pais que não têm condições e simplesmente querem deixar a criança, mas um tio ou os avós querem criar, é obrigado a deixar dentro da família. Por isso tem três modalidades de colocação de família substituta: a guarda, tutela e a adoção, que é a última delas, porque tem que procurar sempre colocar no seio familiar.

Geralmente quem adota é quem não tem filhos ou têm casais com filhos que também adotam?
Devido ao pequeno número de crianças para adoção, nós só entregamos para casais sem filhos, porque não é possível que a pessoa já tenha filhos e tenha preferência na adoção. Então pulamos e entregamos a criança para as pessoas ou o casal que não tem filhos.

Qual a relação dos lares da cidade com crianças em adoção?
As crianças que ficam ali são pouco diferentes das crianças do Haiti. São crianças que os pais são desajustados, usuários de drogas, desempregados e não tem familiares aqui para poder colocá-los em uma família substituta da própria família. Então retiramos as crianças e colocamos nesses lares aguardando um tempo, um mês, um ano, dois anos, até que você verifique se aquele casal está trabalhando, se ajustando e fazendo tudo aquilo que nós mandamos, visando o retorno à sociedade. Nós ficamos aguardando para devolver a criança. Porque se for retirar todas as crianças dos pais que ganham pouco, não tem uma boa alimentação e não vive tão bem, lota um salão grande. O objetivo do estado, da família e da sociedade é manter esses locais, porque muitas mães passam dificuldades porque querem. Ficam desempregadas, só o pai que trabalha e não ganha nem um salário mínimo para alimentação. Como vai fazer com as crianças? Têm dificuldades, passam fome e acabam indo para as ruas pedir. É de onde nós retiramos e colocamos nesses lares, aguardando as consequências. Chama-se pedido de providência: ficamos acompanhando. Quando se vê que não existe nenhuma possibilidade de retorno à família, entramos com uma ação de destituição de quarto poder, aí colocamos em adoção.

Casos em que as crianças são irmãs, pode um casal adotar uma e outro casal adotar a outra?
Não adota. Procuramos fazer da seguinte forma: leva os dois ou não leva nenhuma. Se adotou uma criança com a gente e essa mãe biológica tiver outro filho dali um tempo e correr aqui pela vara, nós colocamos no mesmo casal. Porque pode casar irmão com irmão. A gente mantém o nosso cadastro que só o juiz pode abrir. No caso de doenças que só a família pode salvar, aí pode abrir o cadastro.

Saiu no JM (Jornal de Maringá), no dia 04/12 do ano passado, que a maioria tem uma predileção por bebês da cor branca.
Na hora que faz o cadastro, eu exijo pelo menos duas ou três fotografias do casal, da pessoa. Você procura chegar perto. Por quê? Justamente pelas sequelas. Por que você vai colocar um nissei em um casal que não é? Ou um moreninho em um casal de polacos? Procuro colocar dentro por causa da questão de adaptação. Ele vai ao colégio e ninguém entende. Pô, pera um pouquinho! Tua mãe é branca, teu pai também, e você é moreno? As crianças não sabem lidar, então para evitar isso, saem os primeiros vinte nomes, e a gente enquadra.

Quais são os critérios avaliados na lista de adoção?
Tem que estar inscrito, e a data que você entrou está lá, esse é o critério. O primeiro da lista tem prioridade. Mesmo que as características físicas não baterem, tem que consultar. O casal escolhe se vai esperar ou vai adotar a criança. Mas eu preciso consultar a ordem, não posso dar a criança para o terceiro da lista, sem falar com o primeiro e o segundo. Por isso o cadastro nacional foi importante, porque é um parâmetro para o juiz, para não ter confusão.
Há uns dois meses atrás, teve confusão quando o conselho tutelar entregou uma criança direto para uma família, e foi feito busca e apreensão da criança. Ela foi encaminhada para o primeiro da lista. Não tem problema nenhum. O primeiro da lista tem direito.

Em caso de adoção ilegal. Tem como descobrir? Se descobre, o que acontece?
Busca e apreensão. Tira a criança! Já tiramos um monte. As pessoas deduram. A própria vizinha já fala "Olha, a mulher não tava nem grávida, e já apareceu com uma criança aqui", então já mandamos o conselho tutelar. Entregar direto pro casal, eu até acredito que tenha, mas a pessoa registrar como se fosse filho dele é um perigo. É crime. Você pode retirar a criança dele, então, é arriscado. Não tem necessidade. Faz um cadastro aqui e espera, que vai acontecer.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Trip Tattoo

Não, não perdi a prática de escrever. É só que... ultimamente as imagens têm um significado maior, pelo menos para esta que vos fala. Alguns engavetados já já terão o merecido espaço aqui.
Mas enquanto isso, a ocupação do fim de semana foi, novamente, a tentativa de fotografar shows (com a abertura do diafragma em 5.6!).
Até brinquei com meu amigo Tiago Versuti, vulgo Fogueira, que em quatro anos de amizade, é o primeiro show que eu presencio - o que a maioridade não faz, hein? E à convite dele, que também é guitarrista da banda, arrisquei uns cliques.
Com vocês, os emiéssetês do rock: Salamanders