quarta-feira, 25 de agosto de 2010

É incerto

Te querer o bem
Sem saber ao certo
O certo alguém que tem
Destino traçado
Descrença aturdida
No bem, mal
Em triste partida
E vai seguindo
Todo o sistema imune
De letreiros disformes
E alegorias por vezes
Que me fez assim

Querer-te o bem
Fazer sorrir pra mim
E só o bem que faz
Você por perto
Dando a certeza
De que nosso futuro

É incerto

terça-feira, 3 de agosto de 2010

E foi assim que aconteceu

Nem sabia o que pensar, corria desenfreada pela portaria do prédio. O porteiro, sem entender, digeria lentamente o assunto da fofoca na hora do almoço. Certamente alguma coisa de errado estava acontecendo para que a garota do quarto andar saísse correndo daquela forma. Fugindo de si mesma, de qualquer retalho de culpa, do que não podia acreditar.
Ela demorou a ser assaltada até aquela tarde supostamente aleatória. Foi ao acaso, o interesse era outro, profissional. O parque absorvia toda a luminosidade, a luz mágica. O ambiente era favorável, e então eles se conheceram. E seus pensamentos foram furtados.
Poucas palavras de fato, mas o riso ecoando ao fundo de uma paisagem tão surreal reconfortava os pensamentos, alinhava-os para um único endereço: um ao outro. A sexta-feira demorou a chegar. Ela preferiu ficar em casa, vendo algum filme. Ele saiu para a noite, ironicamente a procura dela. Sem resposta. E sem saber que, ao ver o mocinho do filme, involuntariamente pensou nele. Estava acontecendo, ela pressentia.
- Achei que fosse te ver hoje
Pela idade, ele já podia pensar em um compromisso de fato. Ela era nova, começo de faculdade. Ele, diplomado, empregado e independente. Ela, mais uma sonhadora. Ele vivia o que quisesse viver, corria atrás da impulsividade. Ela, atada à saia da mãe, mal sabia o que era pisar na calçada do mundo. A sorte é que a garota tinha a mais bela visão de tudo, exceto pelas grades que ladeavam a vontade de voar. O registro era feito da janela, memorizado no papel e as histórias que tinha para contar era de um mundo só dela. E que ele, agora, queria fazer parte.
Nunca havia visto tal comportamento, de criatura livre querer se aprisionar. Entoou a mais bela canção, inflou toda a coragem que pôde e quis saber o que tinha por trás daqueles olhos castanhos. Daquela fisionomia frágil e deturpada. Antes da data que mudaria todos os planos, cada um desejava a vida do outro sem saber. E de repente, não mais que de repente, todo o pranto e fúria se fizeram véu e poesia. Caíram ao mesmo andar, nada mais existia a não ser a possibilidade da felicidade compartilhada.
Era o que os dois buscavam. Que todos buscavam. A felicidade. Excentricidade da vida a dois, os mimos e gracejos que encarnam o sentimento mais popular e menos compreendido. Responsável por dopar a maioria das pessoas. Não seria diferente agora.