quarta-feira, 29 de junho de 2011

Tempestade

A noite começara calma, parecendo nosso primeiro contato. Andava lentamente, com os fones de ouvido intervindo na interpretação do ambiente. Tudo monótono demais. Andava olhando para o chão, filosofando qualquer coisa quando alguém, de repente, segurou minha mão. Foi intuitivo. “Fui eu que quis”, disse-me. E passamos a andar juntos.

Três longas quadras se passaram, passamos. Quando percebi tudo se acalmar novamente. Paramos em uma esquina, ela deveria virar à esquerda. E eu? Bom, eu deveria continuar em frente. Não foi assim que ela tinha planejado, notei pela expressão que sempre fazia quando algo a aborrecia. “Não vem comigo?”, sentia muito, mas meu caminho agora era outro. E atravessei a rua antes mesmo que ela pudesse perceber. O sinal abriu para mim, estava fechado para ela. Agora o cruzamento era outro.

No meio da decisão, olhei para frente. Lá estava outra pessoa. Parada, no meio da rua. Confundindo a listra branca da faixa de pedestres, mesclando com o breu que a noite carregava. Uma chuva rala começava a cair. Prestei atenção à música que era sussurrada em meus ouvidos e dei mais alguns passos. Em outro cruzamento, o mesmo rosto. Não me importei e tentei seguir. A chuva ia aumentando gradativamente, resolvi parar por um momento, ver a água rolar.

Sentei-me na entrada de um prédio quando algo adiante, no meio fio, roubou minha atenção. Observei por alguns instantes. A curiosidade fazia parte, sentei ao lado. “Você tá se molhando, por que está aí?”. Ela puxou meus fones de ouvido bruscamente. “Porque só assim você me notaria”. Olhei mais uma vez o rosto já familiar. O rosto da faixa, do meio fio, o mesmo rosto. Os olhos cor de guaraná. Levantei e, desta vez era minha vez de tomar uma decisão. Estendi a mão. As próximas quadras eu teria companhia. Até quando eu não saberia dizer.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Azul

É que nunca usava roupa que não fosse preta. Ou roxa. E você lá, com aquele seu jeitão, sempre dizia “escolhe a azul”. Mas ah... Pra quê a azul? É feia. Me deixa gorda. Azul não. Eu sei, eu sei você gosta de azul. Mas você é você e eu prefiro minhas blusas escuras. Ah, tudo bem se você quiser me dar qualquer peça de roupa azul. E você sabe, não vou usar pra te agradar. Você gosta de mim ou do azul, afinal? Que coisa.

Tô mais bonita hoje? Ah, essa blusa azul... Que diabos. Fico bem de azul? Tudo bem então, pouco importa. Se quiser, pode usar aquela sua blusa de lã azul royal. Horrorosa. Sempre te falei que blusa com listra deitada no meio é coisa de tiozão né? Poxa, você tem 17 anos! Para de usar essas roupas. E por favor, pare de pedir para que eu use azul. Eu não fico bem de azul.

É nova essa, é? Listrada, de novo? Escolhe outra coisa. Olha o tanto de roupa parecida que você tem no guarda roupa. Senhor! Até a coleira da cachorra é azul? Pra quê fazer isso? Que obsessão. Toalha azul, tênis azul, colcha e travesseiro... Olha só esse céu.

Essas situações que aparecem na mente, que às vezes parecem jogadas às traças... Engraçado o cérebro guardar... O maldito azul! Quando me olhei no espelho, vestindo aquela camisa country azul, tentei adivinhar o que você diria. A última vez que te vi você não tinha mudado tanto. Ainda parecia ter 17 anos. Baixinho igual. E olha que progresso! Trocou as listras por xadrez... Azul. Tudo bem, nunca admiti, mas você fica bem de azul. Eu passei a concordar contigo alguns poucos anos depois.

Mas só concordei porque você não vai me dizer para continuar usando roupas azuis. Aquelas velhas blusas de frio, listradas e feias, que você me emprestava quando ventava forte... Bem, ainda estão no guarda-roupa. Provavelmente você nunca mais as verá. Possivelmente já tem outras, completamente iguais. E provavelmente outra pessoa fique bem de azul agora. As situações mudam, nós sabemos... Mas eu duvido que você goste de outra cor hoje em dia.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O tempo é o tempo que o tempo tem

É que eu não tenho muito a oferecer
Não tem problema, fique um pouco
De verdade, não quero dar trabalho
Mas não nos vemos há quanto tempo? Bastante o suficiente para você esperar
Melhor não, agora não
Eu sei, também não tenho lá muita coisa a oferecer que faça você ficar...
Não é isso
E que tem um mundo lá fora te esperando, eu entendo
Não é isso, já disse
A porta está aberta para você ir
Vai me escutar?
E se quiser um dia voltar, continuará aberta
Para com a teimosia...
De verdade, prometo não lembrar que você veio
Mas não é questão de não querer ficar
É o tempo, eu sei... É o melhor presente que podemos ganhar né? Não o desperdice aqui...
Claro que você merece tempo, o tempo que for... É isso que to querendo te dar...
Até parece que não me conhece
Você não esperaria, não é?
Esperar é pra quem tem tempo, e eu não o tenho
Mas estou aqui, querendo te dar o meu tempo...
Não é o suficiente, porque eu já estou desperdiçando o que é seu. Você tá atrasado.
Eu te disse que não tinha muito a oferecer. O que mais é preciso?
Você não ia embora? Você deixou uma porta aberta lá atrás...
Eu tô de mudança...
E vai pra onde?
Não sei, o tempo vai decidir...
Mas você não me deu o seu tempo?
Agora quem decide é você.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Guia

O que aqueles olhos confirmavam, não saberia responder. Jamais. É certo que o brilho que ali se intensificava garantia-me coragem o suficiente para adiantar um passo. E o medo diluía-se em tal poço tão negro de segredos e contradições. Lia-me. Movia o universo com uma piscada e, ainda assim, tremia o chão do meu mundo com um único direcionamento do olhar. Ao encarar os meus. E a força que me dava, e as palavras proferidas pelo não dito. O silêncio era cúmplice da esfera que se formava. Narrava, ainda que na melodia sondada pelo vento, o que não conseguia dizer. E seguia adiante. Insistindo em manter contato visual, em fazer prevalecer o que as batidas do coração acelerado contrapunham o sistema racional. Induzia-me. Caminhava. Instintivamente direcionava ao que não conhecia. A narração, os pontos brilhantes, findados na escuridão. Escuridão incólume. Presente nos dois círculos que me acompanhavam. E acompanhariam se assim fosse da vontade, além de qualquer outra cor.

E as pupilas esverdeadas tanto quanto a copa das árvores de folhas secas. Azuis, tal qual o céu de baunilha ao amanhecer. Queimado tanto quanto o outono, de folhagens enfeitando as calçadas levianas da própria estrada. O contorno do que se pretende. Aqueles olhos poderiam ser tudo, e o nada. Inteligível e terno. Incompreensível, insano, improvável. E por deixar de ser, era tudo o que se propunha. A tudo que observava, e dialogava com o silêncio, com as composições de cores e vazios que prevalecia. No olhar mais doce e mais instigante que eu teimava em decifrar. No sombrio oblíquo. Profano.

*Do aglomerado de textos "preto & branco" (26/10/2010)

sábado, 18 de junho de 2011

You're gonna wish you never had met me

Foi em uma tarde de sábado, com o vento chacoalhando a cortina do quarto. Era quase fim de junho, as discussões arrebatavam minha caixa de e-mails com um assunto que deixara todos indignados. Lia uma revista online, tentando esquecer um pouco desses problemas. O que sempre digo: Chega! Cansei! Mas é que... Não é tão simples assim se livrar do que ocupa espaço na mente. E a gente sempre mente nessas ocasiões.

Mas deixemos os problemas de lado. Falemos de coisa boa. Estava eu, debaixo das cobertas, a meia luz de uma meia tarde, com meio pensamento no que havia acabado de encontrar: uma mescla de soul, funk, blues. Um vozeirão que me conquistou assim, imediatamente. Quem era ela, céus?

Aquela música me fez lembrar um episódio do Glee, em que “Rolling In The Deep” fora entoada por Rachel Berry (Lea Michele) e Jesse St. James (Jonathan Groff). Assisti aquele episódio pelo menos três vezes (voa-lá, a segunda temporada acabou, o que mais eu faria se não repetir episódios?), e toda vez me arrepiava naquele dueto. Foi quando o ex-namorado da Rachel voltou do nada para pedir desculpas (aí se você ficou perdido na colocação, vá assistir ao seriado, por favor!).

Ouvi uma, duas, três vezes a música original. Agora na voz dela. Será? Pesquisei um pouco: Adele Laurie Blue Adkins tem 23 anos. Ganhou prêmio de artista revelação em 2008. E ora essa, porque carga d’água veio se revelar na minha vida só agora? Foi daquelas pessoas que surgem com a internet: tinha uma página no myspace, provavelmente numa tarde sem muito o que fazer algum anjo da guarda descobriu que a menina tinha talento e... tcharam! O contrato foi assinado, assim, como se fosse um capítulo de novela.

Com essa idade, com uma voz dessa e com todo esse talento e visível sucesso. Vamos agradecer as facilidades digitais, né?

Vou negar que estou aplaudindo de pé o desempenho de Adele? Jamais. Gostaria de convidá-los a terminarem esse sábado, esse domingo e daqui em diante... A aplaudirem de pé também o último CD dela, batizado com a idade em que o gravou: “21”. Prova de que a mágica da dor pode ser transformada em algo digno de 11 faixas. Como a letra da canção a seguir diz, "Turn my sorrow into treasured gold" (Transforme o meu sofrimento em ouro precioso). E transformou.

Rolling In The Deep - Adele

Rolling In The Deep - Glee Cast

E se quiser ir além, temos (viva a internet!) todo o show de Adele em Paris disponibilizado no youtube. Achei essa coisa LINDA no post do Alexandre Inagaki, aqui.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Despótica

Era como algo feito de cristal. Aquela doce criança de olhos grandes e cabelos cacheados. Guiava-me com seu rosto angelical e enganava muito bem com aspecto tão inocente. Foi por louvar tal imagem por tanto tempo que nem percebi o que de fato alimentava.

Às vezes, não raro, essa criança resolvia escapar. Tinha sede de conhecer um pouco a minha realidade, verificar o mundo real a qual não pertencia. Deixava transparecer que era doce até o momento em que tinha liberdade o suficiente para guiar-me pelo impulso. Era mimada demais. Esperneava quando não tinha o que queria. Berrava. Isso refletia nas minhas enxaquecas constantes.

Deixá-la de castigo nunca foi opção viável. Era pior. O estágio em que estávamos acostumados a lidar com ela – eu e minha razão – já impossibilitava conter os ataques cada vez mais presentes no meu cotidiano.

Encarar aquela criatura de aparência infantil e inofensiva ainda enganava. Enquanto um lado advertia, o outro sorria e estendia a mão, permitindo que o bebê viesse a crescer. Mas o fim disso tudo, sabia bem: cresceria até onde deixasse, e se não o parasse agora, tomaria conta de vez de toda a minha vida.

Afastaria quem agora eu mais queria perto. Convenceria de que o passo em falso era a melhor forma de remediar, e que o perdão, repetido inúmeras vezes, jamais cansaria aqueles que nutrissem algum sentimento por mim. Desculpas? Me pego proferindo todos os dias o mesmo pedido.

Estou inclinada a aceitar mais ordens de uma criança birrenta, que insiste em permanecer intocada dentro de mim. Que insiste em me colocar em situações desfavoráveis, desconfortáveis. Que insiste em afastar o que tenho de melhor. E afirma que o ciúme é bom. Insiste que tudo isso deveria ser mais fácil. Que grosserias fazem parte. E que ordens são proferidas para serem aceitas. Quer atenção, quer sobrepor qualquer manifestação contrária.

Grito. Assustada, ela chora incontida. Promete não fazer outra vez. E não vai, não agora. Nunca mais.

O grito é abafado. Sufoco-lhe até não poder ouvir seu choro. Até ter certeza de que agora serei só eu. E o coração.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mais do mesmo

O cheiro parecia o mesmo, aquele que ficara na roupa depois de tanto tempo. Um afago na memória mais recente que conseguiu encontrar, naquele emaranhado de artigos e textos jogados sobre a mesa. A vida, fazendo menção ao típico prazer de trabalhar na bagunça, estava assim: de pernas para o ar.

E o que é que vou fazer agora?

As canetas bic, os rabiscos nos textos de tanta gente, a fotografia grampeada no mural ao lado. Os compromissos remarcados em papéis coloridos, tampando a visão de qualquer monitor de 20 polegadas. Era mais que uma tarde turbulenta de trabalho.

Olhou sem vontade à manchete do jornal. Coisa pouca. Mais ricos, nós? Ah, conta outra. A vida de todo mundo é uma bagunça. Friccionou os dedos na têmpora, tentando relembrar desde quando estava ali, presa naquele minuto. Compensada de afazeres, dizimada de vontade e, ainda assim, em movimento. Porque uma vez disseram, que o que importava mesmo era se mexer – não importava como.

Estagnou: era impossível. Poeira, adesivos, telefone que não para. Quando iria parar? Tudo isso? Pior ainda. Quando é que tudo isso começou? A porta abre. O grito ecoa. Faz, faz, faz. É pra fazer tudo isso até as 18h, entendeu? Os prazos são seus. A olheira e o café na caneca com o meu nome. Já frio claro. Era esse mesmo o nome ou peguei por engano novamente? O compasso na hora de andar já não era o mesmo.

Ranger os dentes não adianta quando a vontade é berrar. Quando não se suporta mais ouvir o motor do carro funcionar, aspirar aquele frio seco da mesma cidade... Há tanto tempo a mesma cidade. E eu que pensava que seria tudo diferente. Os mesmos olhos, o mesmo sorriso, o mesmo sentimento. Eu ansiava mais, eu podia mais. Merecia ter. O quê?

Ah é, tanta coisa... Que é fácil perder as contas. O que eu estava falando mesmo? Grampeio mais papel, guardo no envelope. Está pronto. E você, pronta? Bato o ponto, deu o horário. Está pronta? Fecho a porta, como se não fosse mais voltar. Não pego o mesmo caminho de volta, corro. Respiro, e respiro mais uma vez. Dá para mudar?

Dá pra ser agora?

Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, agüenta
Lenine - Do it

segunda-feira, 13 de junho de 2011

É que...

- Sabe quando um turbilhão de perguntas invade a mente?
- Sei.
- E quando você menos espera já roeu todas as unhas que tinha, pensou em tudo que podia e o que não podia...
- Mas é só perguntar...
- Como se fosse fácil.
- O quê, quem, quando, onde, como e por quê?
- É isso que faço todos os dias.
- Como pode dizer que é difícil perguntar?
- Quando se encarna uma profissão é diferente. A minha pergunta não tem esse tamanho.
- Se não tem esse tamanho, que tamanho tem? Onde cabem essas dúvidas?
- Ah se eu soubesse dizer.
- Uma vez não te disseram que o ‘não’ você já tem?
- Não é o ‘não’ que eu temo.
- O que é, então?
- Tenho medo que por um descuido do destino, os anjos digam amém.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Da coleção de vasos...

Acabara de completa 91 anos. O mapeamento do rosto já era resultado de sulcos escavados pelo tempo. Embora a estrutura fosse mais frágil que a tenra idade, os olhos mantinham a mesma cor de chá de outrora. Aquela vitalidade há muito esquecida.

A comemoração pelo quase século de vida era compartilhada com a região da casa que mais apreciava – aquela que ninguém poderia chegar perto sem sentir um mínimo de ciúme vindo da senhora. Talvez fosse típico das avós manterem um jardim florido – não nessa história. O ambiente era iluminado o suficiente e colorido excessivamente. Os vasos eram espalhados por toda a parte. Já havia saído até no jornal uma vez. Onde é que já se viu alguém colecionar vasos?

O neto mais novo a acompanhava – sob extrema atenção – na hora de aguar as plantas, todas as tardes.

- Vó, por que a senhora não joga fora esse aqui?

Rispidamente tomou-lhe o vaso das mãos. Era simples, de barro. Comparado aos outros, não se encaixava ali.

- De forma alguma.

- Mas não tem nada plantado nele.

Ofendida, guardou o pequeno vaso a altura do peito. Onde pudesse mantê-lo em segurança.

- Mas é claro que tem.

- Prefiro os outros – opinou sem querer prolongar a discussão.

Em algo deveria concordar com o menino: era mesmo incomparável aos outros. Era único. Não poderia pertencer a uma coleção, era especial demais para isso. Exigia mais cuidados – não que realmente fossem necessários, mas a atenção voltada a um simples vaso remetia às lembranças plantadas ali. Remetia ao que representava. Pouco importava do que era feito, qual era a forma exata e quantos anos estava guardado. Ela sabia bem da importância que tinha. Quando, mergulhada em pensamentos, foi pega de surpresa.

- Está pensando em quê? – duas mãos enrugadas apoiaram-se diante de um par idêntico.

Levantou os olhos e sorriu, - Pensando que este vaso foi o começo de tudo...

- Não é hora de nostalgia. Você sempre foi muito nostálgica. Tá esfriando, vamos entrar...

A enfermeira acompanhou-a até o quarto. Normas da casa que agora freqüentava, do asilo que tanto temia habitar. Sentou-se na cama, apoiando-se no criado-mudo. Encarou o porta retrato feito em bronze ali em cima. A idade não faria com que aquele sorriso fosse apagado da memória facilmente. Lembrou-se de datas, de estradas e histórias. A dor inflou o peito ao recordar, fitando duas alianças no dedo.

Sabia agora o que responder ao neto se voltasse a questionar o vaso de barro... Acabara de encontrar o que estava procurando.

sábado, 4 de junho de 2011

Eu Tenho INTERNET

Já ouviram falar de Nellie Bly? Jornalista americana, ela deu o primeiro passo nas reportagens investigativas. Se disfarçava, convivia, conquistava a confiança das pessoas e assim, atingia seu objetivo de reunir depoimentos importantes para desenvolver as reportagens.

Bom, é claro que não somos nenhuma "Bly", não nos disfarçamos para atingir nosso objetivo mas... tivemos de treinar um olhar sensibilíssimo. Ficarmos atentos aos depoimentos constantes de pessoas ao nosso redor. Treinar a memória. E, principalmente, treinar nosso lado mais humano.

Desde o início do ano estamos trabalhando para a realização de uma revista laboratório. Eu Tenho Profissão.

E eu achando que só o trabalho da revista laboratório desenvolvida pela turma do terceiro ano de jornalismo do Cesumar já era mais que suficiente. Ledo engano. O que seria da definição do tema, da distribuição de pautas, dos primeiros contatos, da vivência, da produção fotográfica e agora, etapa final, da distribuição de todo esse material rico em páginas de revista, se não tivermos trabalhado outro âmbito no jornalismo? Ah, a internet! Como faz milagres para nós, entusiastas na profissão. Foquinhas adestradas, que batem palma a cada mínima tarefa concluída.

Trabalhar com tanta informação e um texto longo, denso, é um desafio e tanto. Como comprimir os dias de vivência em um trabalho em que ainda não tínhamos contato? No meu caso, acompanhar os serviços do educador de base e da abordagem de rua rendeu mais para mim do que provavelmente vai render para o leitor. Compartilhar mais conteúdo no texto? A Rosane, professora que coordena a revista, nos mataria em dois palitos. Não tenho dúvida.

E caiu do céu, como se fosse criação divina: pudera, ideia de Deus. Criaríamos um blog de making off, com atualizações diárias... e por enquanto vamos preparando o terreno para que você possa se deliciar com nossas reportagens – tanto quanto a maioria se deliciou e se deslumbrou realizando esse trabalho. Quer acompanhar também? Não custa nada e o tempo de conexão no link é ilimitado :)

Você pode clicar aqui.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Desabafo

E então de repente você vem. Reaparece do mesmo modo como entrou na minha vida: assim, do nada. Fala em saudade, fala de lembranças, oferece nossas memórias compartilhadas... Tenta resgatar, por um vão espaço de tempo, o que foi nosso durante alguns momentos. Claro que, como sempre, permaneço na defensiva. Tento de alguma forma parecer educada dizendo que... acabou. É, você entende? Acabou.

Digo que eu sou assim, que permaneço na vida das pessoas o tempo que acho necessário. Fico e vou – como você disse, nas memórias. Mas continuo andando, tentando não olhar para trás. Tentando não lembrar o sorriso de canto de boca, daquele menino tímido sentado no banco do shopping. Daquele menino que eu achei que poderia arriscar algo e... passou. Como deveria passar. Eu passei.

Sigo em frente, atravessando a vida de outros como o fiz com a sua vida. Como nós fizemos. Um dia talvez pague por toda essa indiferença que faço, por vezes, por alguns instantes. Por essa euforia que apaga de repente, que o interesse diminui, em que eu enjôo de brincar.

Talvez um dia me pegue novamente servindo de brinquedo para alguém, e entenda o que você quis dizer com saudade...

Saudade daquela que parecia ser doce. Que parecia ser perfeita pra você. E não era.

Era... humana.