segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Corre dor

Faltavam cinco itens da lista de compras e eu aguardava pacientemente na fila do açougue – dia de carne em promoção, sabe como é. Olhei de soslaio para os demais corredores, tudo estava calmo. Pela primeira vez via um supermercado calmo, com o locutor de 15 em 15 minutos bradando alguma oferta do dia. Aquela música de fundo. Rádio de supermercado é uma coisa brega, né? Uma vez ouvi dizer que isso fazia com que as pessoas ficassem mais tempo em um lugar e comprassem mais. Se dava certo ou não, eu não tinha doses suficientes de publicidade e propaganda no sangue para responder.

Começou a tocar aquela nova, do rapper que minha prima costumava idolatrar. Lil Wayne e Jay Sean – e viva o Google! – o refrão era “down down down”, e no corredor 11, de biscoitos, poderia dizer que começava um flash mob dance de uma só pessoa. Um garoto arriscava alguns passos ali, sozinho, entre bolacha passatempo e bolacha de champagne. Devia ter uns 10 anos. E dançava como ninguém – engraçado – e inovava os passos à medida que a música ficava mais agitada. A fila não andava, a senhora de cabelos brancos reclamava do preço da coxa de frango. As carnes embaladas em bandeja de isopor amarela nos observavam atentamente. Nunca acreditei muito naquele vermelho vivo das carnes embaladas. Vendiam uma imagem do que não eram: eu sabia que não eram tão saborosas quanto os açougueiros ansiavam que fossem.

Vender era preciso. Por que será que não criavam um grupo para se apresentar ali? Imagina só, show de dança, lingüiça e carne de frango. Língua de boi, coraçãozinho. Música ao vivo. Um espetáculo a parte e nenhum cliente reclamando, todos felizes cantarolando “macarena” em coro. Com direito a frangos sem cabeça incorporando a coreografia com uma desenvoltura sobrenatural. Igual aquele menino do corredor 11. Eram passos ensaiados, era a única hipótese. Um moonwalk desengonçado e uns três minutos de fila estagnada. Até que fazia sentido, sabe? Aquela frase maluca que instigava as pessoas a dançarem como se não fossem vistas. Ainda mais hoje. Não estou brincando, juro. Eu bem que poderia fazer igual àquela maluca do seriado Modern Family e pegar a gravação dos corredores de supermercados para provar que era verdade.

Que a felicidade não era inventada.

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