quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Meu sofrer


Conhecendo pessoas certas na hora errada. Nunca aconteceu nada parecido? Alguém que poderia ser teu amigo de infância, mas a distância atrapalhou. O amor perfeito, mas o verão acabou. A parceria inseparável, mas o tempo esgotou. Todos os dias a vida se compara a uma estrada que não sabemos onde vai dar. Cruzamos com muitos rostos, familiares ou não. Alguns sorrindo nos fazem sorrir também, outros com dor que nos faz ter compaixão, têm os que possuem raiva no olhar... E por fim, retribuímos com a pureza do coração.

Mas me diga, já aconteceu? Terem tudo em comum ou nada em comum e mesmo assim rirem juntos das coisas mais bobas. Um gostar da companhia do outro, mas o passado complicar o que poderia ser um presente adorável e um futuro previsível? Achei que não, mas acontece sim. A todo instante. Por mais esforço em manter a cabeça erguida e caminhar sem olhar para trás, é inevitável não ter uma comparação com alguém querido que a gente conheceu. “Mas fulano não me lembra tal pessoa?”. Uma música, um sorriso, um joguinho de vídeo game. Tudo faz lembrar o que já vivemos. E porque simplesmente não esquecemos e partimos para encarar outras expressões que nos atravessam todos os dias? Eu não sei, sinceramente, não faço ideia. Mas não gostaria de pensar sobre e achar alguma conclusão. Porque nos faz bem? Nos fez bem? Talvez. E o agora? E o depois?

Tudo poderia parecer tão fácil se as lembranças não atormentassem a convivência. Tudo poderia ser tão simples se parássemos de insistir no que já foi. Pode ser diferente sim, mas cicatrizes permanecem para afiar a memória de que algo aconteceu.

Pé ante pé, e eu continuo caminhando, olhando para o horizonte, trombando com gente engraçada, querida, maldosa. Gente que se eu pudesse, carregaria comigo para sempre. Mas as estradas só se cruzam, as pessoas só se olham... E tem de continuar caminhando. Pois o destino de cada uma depende delas mesmas. A nossa interferência mútua talvez gere alguma conseqüência futura, mas o pensamento que todos têm quando conhecem pessoas novas, são frutos de tudo que se viveu até então. O rastro do passado atrás da sombra, e o sorriso amargurado das vidas que se deixou para trás.

O caminho? O nome dele? Idade? Tempo? Tempo. Os minutos trocados e as informações sugeridas, as conversas de fila de banco e de repente, não mais que de repente, nossa visão muda. As pessoas incorporam o presente, e dói pensar que vão fazer parte do passado inesperadamente.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

É amizade sim!

Engraçado como as coisas funcionam. Aquela história de ‘nunca diga nunca’ talvez cole aqui, talvez não. O porém é que, depois de tanto tempo procurando por alguém que eu chamaria de metade, eu descobri que não é sempre o sentimento de romantismo que nos faz viver momentos inesquecíveis. Bonitos, fofinhos por assim dizer. Engraçados, divertidos. Nada disso.

Não vou menosprezar o amor, nem me darei ao luxo de falar sobre ele, pois cansei de tentar compreender como as coisas funcionam – aliás, será que funcionam? Não é um mecanismo que pode ser decorado. É diferente, bem diferente. Cada caso é um caso, embora a sensação talvez seja a mesma.

Mas vamos falar de companhia. A companhia que eu sempre precisei estava tão perto, mas tão perto, que o desfoque ocular me impedia de enxergar. Verdade, sempre soube que tinha miopia. O tipo de pessoa que, uma vez ausente, a falta é nítida. O jeitinho de falar, a forma que sorri e o olhar doce. O manejo da cabeça, a voz tímida querendo cantar – cantar a vida, que parece renascer a cada manhã. As besteiras, os conselhos, as brincadeiras. Tudo o tornava único – o tornava especial, essencial, por que não? Eu precisava de uma distração.

Antes tentava me distrair nos braços alheios, buscando o que eu já tinha e não sabia. Exploração acredite ou não. Olhar ao redor, ver que nem tudo é o que parece ser e mudar a visão de jogo, de estratégia. Peraí, jogo? Ninguém aqui joga não, capitão! Deixa eu terminar a história.
Tá achando que é jeito de menininha apaixonada? Meu pai amado! Tenho 23 anos, sei muito bem do que falo – não é amor não senhor! É, é não acredita? Eu também não acreditava até viver tudo isso.
E foi assim que aconteceu, uma amizade cresceu, e o vazio que existia dentro do peito se preencheu. Moço enche o copo. Ficou até bonitinha a fala né? Combinando, rimando até. Nunca fui muito de palavras não. Filosofava sobre os relacionamentos que não deram certo por falta de assunto. Mas com ele é diferente. Falamos de lua, de estrelas, de música, de coisa boa. Ou de coisa sem sentido. Quem foi que disse que na vida tudo tem sentido? Eu perdi os meus.

E agradeço imensamente por ter perdido, sabe? Ele me faz tão bem, tão bem. Um abraço bom, o senhor entende? Eu tô falando, não to apaixonada não! Isso é passado. Vendi o coração, joguei todo o amor que tinha fora. Nunca sofreu por um amor que não deu certo? Mas as coisas passam. A última coisa que aquele vagabundo me disse foi que ‘as coisas mudam para o bem’, e eu acreditei piamente em cada palavra dele! Olha só onde estou agora. Felizmente essa profecia veio a acontecer.
Já ouviu falar da tal da lei da atração? Tem muita gente ganhando grana em cima dela. Fazendo livro, remontando interpretações pra vender mais. Até aquela lá, da televisão, lembra? A que apresenta um programa de culinária... Então, até ela! Escreveu algo sobre essa tal lei. Sabe que às vezes eu acho que funciona sim? Pensamento positivo atrai coisas positivas. E o que eu tava procurando há tanto tempo? Companhia.

Se eu sou louca? Talvez. Tinha tanta gente ao meu redor, conhecia gente nova a todo instante – e adorava, não pense o contrário! Eu gostava sim. Só que nenhuma conseguiu construir algo que fizesse a diferença. E ele apareceu, doutor. Apareceu sim, do nada. Foi engraçado, eu tava procurando outra pessoa. Foi sem querer. Colega todo mundo tem, é verdade. E amigo, o senhor tem? O Juca não é amigo, é cliente do boteco. É desde que abriu, o mendigo fila bóia sempre que pode. Mas é amigo? Te faz sorrir quando você precisa? Você sente falta quando ele não aparece? Confia em ti?

Então é amigo, e é raro. Pessoa simples e rara. E por isso eu digo: isso não é discurso de adolescente apaixonada. Isso é discurso de quem ainda acredita nas pessoas. Consegue ver, mesmo que míope, que além daquela capa que todos nós vestimos, existe gente do bem, que quer fazer o bem, que só quer te ver bem. E é nisso que dou valor. Vê a conta aí pra mim.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Reviravolta


Ainda é totalmente dono da tua própria razão, a mesma que me arranca gotas salgadas da entrada para o meu mundo. Toda noite é igual, depois das mesmas conversas que me remetem ao que eu canso de omitir para mim mesma. Sei que toda glória e diversão ficam a par da nossa situação. O que nos tornamos? Escravos do próprio orgulho.

E eu me pergunto, antes de fechar os olhos – O que você quer de mim? – e a pergunta ecoa pelos pensamentos, até que outra noite de insônia se aproxima. Mas até pegar no sono, é a perturbação que me inquieta.

E as contradições racionais e emocionais entram em combate a cada frase completa. O ódio que eu deveria nutrir transfigura-se em algo mais forte do que eu possa suportar. Tentando pensar no mal que me faz, chegando à conclusão de que a dor é mínima. Concluindo, acima de tudo, que todo esforço contrai-se em um erro impagável, a um risco imprudente, que insisto em correr, que insisto em cometer.

Não adianta escachar aquilo que é legível em teu semblante – eu não desistiria, não agora. Sempre questiono quando o fim chegará, embora eu sempre adie a data por receio do que há de vir. Não é bom, o que minha previsão incide. Eu sempre soube, desde o início. Mesmo teimosa, mesmo insistente, de noite, de dia – já basta passar pelos transtornos tão irreais.

De olhos fechados mantenho minha postura inicial, finjo não ver, quando tudo está tão nítido. Finjo não sentir, quando nada mais cabe em meu peito. Finjo acreditar, que cada palavra tua será comprometida com a lealdade. Finjo ser quem eu gostaria de ser. E no fim só me resta o erro fatal de fingir que ainda há caminho a se percorrer.