quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Do que desconhecia

Já estávamos no meio da tarde e eu pronta para ir embora quando ofereceste o mp3 para que me fizesse companhia na escrivaninha solitária. Olhei para o relógio. E ele poderia esperar. O volume altíssimo soava estridente aos pequenos e inofensivos fones de ouvido. “Você é surdo?”, questionei de sobrancelha arqueada. Diminui gradativamente um Maroon 5 dançando igual ao Jagger, seguido de alguma outra batida pop que eu não fazia ideia do que era – e agradecia a cada segundo passado por não ser alguém bradando possibilidades em me pegar.

Fui adiante, uma música infantil. Olhei pro teu cabelo bagunçado e ri baixinho. Pensei que encontraria Strokes no seu acervo pessoal de músicas. E achei bonitinho por não encontrá-lo. Eu comentei que precisava enfrentar o sol forte e ir até o clube, quando você disse que fazia aula de tênis por lá. Sentiu-se lisonjeado por ser o primeiro a se inscrever nas aulas e passar o primeiro dia com pose de treinador na quadra. Ser esportista não faz o seu perfil. Muito menos o meu, mas senti imensa vontade de começar aulas de tênis.

Faz quanto tempo que nos conhecemos mesmo? Bem lá seus oito anos. E nunca notei que tudo o que sabia a seu respeito era o que eu deduzia que era. Totalmente errado. Ultimamente você tinha o costume de ficar até mais tarde naquela sala – e sempre fiquei admirada. Como trabalhava! Até o dia em que fui averiguar suas pesquisas – livros e mais livros de inglês. “Por que diabos não estudava em casa?”, questionei-me inconscientemente. Pra lá dos 27 e sem perder tempo – como é que eu não sabia disso? Achei que tinha comentado no último café.

O sol ia abaixando lentamente e você me ofereceu uma carona. Recusei por medo de redescobrir com quem convivia. Enfrentei o suor e o risco de pegar um bronzeado inadequado. Andei lentamente sem a pretensão de chegar em casa. Acho que deveria me matricular nas aulas de tênis, sabe como é. Aquelas velhas resoluções de ano novo talvez venham a calhar...