terça-feira, 14 de junho de 2011

Mais do mesmo

O cheiro parecia o mesmo, aquele que ficara na roupa depois de tanto tempo. Um afago na memória mais recente que conseguiu encontrar, naquele emaranhado de artigos e textos jogados sobre a mesa. A vida, fazendo menção ao típico prazer de trabalhar na bagunça, estava assim: de pernas para o ar.

E o que é que vou fazer agora?

As canetas bic, os rabiscos nos textos de tanta gente, a fotografia grampeada no mural ao lado. Os compromissos remarcados em papéis coloridos, tampando a visão de qualquer monitor de 20 polegadas. Era mais que uma tarde turbulenta de trabalho.

Olhou sem vontade à manchete do jornal. Coisa pouca. Mais ricos, nós? Ah, conta outra. A vida de todo mundo é uma bagunça. Friccionou os dedos na têmpora, tentando relembrar desde quando estava ali, presa naquele minuto. Compensada de afazeres, dizimada de vontade e, ainda assim, em movimento. Porque uma vez disseram, que o que importava mesmo era se mexer – não importava como.

Estagnou: era impossível. Poeira, adesivos, telefone que não para. Quando iria parar? Tudo isso? Pior ainda. Quando é que tudo isso começou? A porta abre. O grito ecoa. Faz, faz, faz. É pra fazer tudo isso até as 18h, entendeu? Os prazos são seus. A olheira e o café na caneca com o meu nome. Já frio claro. Era esse mesmo o nome ou peguei por engano novamente? O compasso na hora de andar já não era o mesmo.

Ranger os dentes não adianta quando a vontade é berrar. Quando não se suporta mais ouvir o motor do carro funcionar, aspirar aquele frio seco da mesma cidade... Há tanto tempo a mesma cidade. E eu que pensava que seria tudo diferente. Os mesmos olhos, o mesmo sorriso, o mesmo sentimento. Eu ansiava mais, eu podia mais. Merecia ter. O quê?

Ah é, tanta coisa... Que é fácil perder as contas. O que eu estava falando mesmo? Grampeio mais papel, guardo no envelope. Está pronto. E você, pronta? Bato o ponto, deu o horário. Está pronta? Fecho a porta, como se não fosse mais voltar. Não pego o mesmo caminho de volta, corro. Respiro, e respiro mais uma vez. Dá para mudar?

Dá pra ser agora?

Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, agüenta
Lenine - Do it

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