terça-feira, 21 de junho de 2011

Guia

O que aqueles olhos confirmavam, não saberia responder. Jamais. É certo que o brilho que ali se intensificava garantia-me coragem o suficiente para adiantar um passo. E o medo diluía-se em tal poço tão negro de segredos e contradições. Lia-me. Movia o universo com uma piscada e, ainda assim, tremia o chão do meu mundo com um único direcionamento do olhar. Ao encarar os meus. E a força que me dava, e as palavras proferidas pelo não dito. O silêncio era cúmplice da esfera que se formava. Narrava, ainda que na melodia sondada pelo vento, o que não conseguia dizer. E seguia adiante. Insistindo em manter contato visual, em fazer prevalecer o que as batidas do coração acelerado contrapunham o sistema racional. Induzia-me. Caminhava. Instintivamente direcionava ao que não conhecia. A narração, os pontos brilhantes, findados na escuridão. Escuridão incólume. Presente nos dois círculos que me acompanhavam. E acompanhariam se assim fosse da vontade, além de qualquer outra cor.

E as pupilas esverdeadas tanto quanto a copa das árvores de folhas secas. Azuis, tal qual o céu de baunilha ao amanhecer. Queimado tanto quanto o outono, de folhagens enfeitando as calçadas levianas da própria estrada. O contorno do que se pretende. Aqueles olhos poderiam ser tudo, e o nada. Inteligível e terno. Incompreensível, insano, improvável. E por deixar de ser, era tudo o que se propunha. A tudo que observava, e dialogava com o silêncio, com as composições de cores e vazios que prevalecia. No olhar mais doce e mais instigante que eu teimava em decifrar. No sombrio oblíquo. Profano.

*Do aglomerado de textos "preto & branco" (26/10/2010)

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