quarta-feira, 27 de outubro de 2010

É uma viagem

Achei que eu não ia ligar muito. Até agradeceria quando a correria de cumprir pautas pro jornal-laboratório acabasse. E agora que chega próximo ao fim, a saudade antecede qualquer outro sentimento que eu possa expressar.
No meio do ano, quando resolvemos - aos cuidados de Deus - avaliar as produções, houve diversas reclamações quanto às idas ao bairro. "É longe demais", "não tenho tempo", "não moro em Maringá", "não sei abordar as pessoas", "não acho nada interessante".
Eu, bancando a do contra, pensava: eles não sabem o que dizem. Só pensava.
E, certamente, não sabiam. Ou eu que era maluca demais em aceitar subir num ônibus que nunca tinha pego na vida para ir a um lugar igualmente desconhecido. Perigoso, distante, isolado, bonito, curioso, carente? Só saberia quando a viagem acabasse.
Por sinal, já está acabando. E o maior perigo que encontrei até então, foram os comentários dos colegas que desencorajavam qualquer pessoa a seguir adiante com os bairros. Que renderam tantas crônicas e risadas. Lembranças.
Aflita, já deixo o banco do ônibus Matéria Prima para outro aventureiro sentar. E aviso de ante-mão, que de nada vai adiantar permanecer sentado, ouviu? Há muito trabalho pela frente para manter o bonde andando. Com o que me assemelho? Querendo cuidar do que, durante um ano, chamei de meu. Orgulho.
Quando Deus disse que aquilo seria uma vitrine, prontamente acreditei. Mal sabia que Deus também errava. Mais que um mostrador de produtos bonitos, com embalagens atrativas, o tal do ônibus que embarquei era o nosso próprio diário de bordo. O que apresentamos não tinha nada a ver com belos pacotes. Tinha a ver com as pessoas que desembrulhamos para mostrar ao mundo que existem.
Era disso que eu mais gostava do bairro. Explorar. Descobrir no rosto anônimo um diferencial. Abrir um baú de histórias para meu próprio aprendizado. Aprendi. Errei. Rompi barreiras que só eu tinha.
Puxo a campainha, ouvindo ao longe as histórias que vamos contar dali alguns anos. Era o sinal. O condutor está parando, já consigo avistar rostos que serão desvendados futuramente. O desconhecido já não representa mais o medo que antes todos tinham. Me preparo para descer e esperar o que virá. Por enquanto, estou bem guiada, sei disso. O Todo Poderoso toma conta do volante, extraindo de nós o máximo de combústivel que consegue. Muita cafeína.
Transporte ecologicamente correto. Humanamente curioso. E Ele nos prepara para seguir o caminho não mais sobre rodas. Temos nossos próprios pés desenvolvidos para continuar a jornada. Descobrindo. Desembrulhando os pacotes.
Foi o meu maior presente. Conhecer quem conheci. Vivenciar as cenas que só eu vivi. O ônibus para. Chegou a hora de descer.



Fotos: alguns dos ilustres mais-que-personagens da nossa história; E faltou muita gente;
Essa última, os desembrulhos do ano, hahahaha

3 comentários:

  1. Só tem uma sensação mais gostosa que essa relatada por você e que eu conheço muito bem: É a de observar o desabrochar da adolescente de ontem de um ser humano sensível, corajoso, amadurecido. Essa é a minha recompensa, é só o que justifica fazer a "ponte" Londrina-Maringá todas das semanas. Mais uma das minha "crianças" está crescendo, soltando as asas, voando para o mundo. Não tem nada melhor que isso

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  2. Minha cara companheira de histórias, fotos e confições, o MP foi com certeza foi mais que uma matéria laboratório do curso de jornalismo, foi um meio de aproximação entre aqueles que aprenderam com o tempo que a convivência é necessária e a amizade algo conquistado com atitudes de companheirismo. Foi assim entre a gente e assim esta sendo com nossa querida Rosane Barros. Mais que professora, uma mãe!

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  3. Tem gente que escreveu para aprender. Se meteu a decorar o número de toques para uma legenda e a quantidade de linhas para que cada parágrafo fique balanceado com o texto. Você, Ana, usou o MP para decifrar. Não a técnica jornalística, mas um jornalismo-humano que permite usar metáforas de "rios e correntes" como quem fala de dados do ibge. Fala se não concorda: É uma delícia perder pontos na correção da Rosane porque vc se meteu a ousar. Se o MP foi uma viagem de ônibus,nós pulamos a catraca e colocamos a cabeça pra fora cantando Mamonas Assassinas. beijoo

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