sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cafecólotros anônimos

Vícios consumindo as horas, o dia, a própria vida por assim dizer. Tudo em excesso, já me disseram, faz mal à saúde – o que não deixa de ser uma verdade popular. Manter o equilíbrio tem papel fundamental no comportamento estável que assumimos, minuto sim, dia não. E maldito seja o vício! É maldito mesmo, mas dá para enganar o cérebro dizendo que faz bem e que é melhor assim. A dependência é perdoável, até compreensível se analisada bem. Age em benefício, ou pelo menos deve agir. Falo de um vício em específico. Já reparou como todo comunicador social (ou quase comunicador, meu caso) é viciado em cafeína? Mal da falta de tempo ou do acúmulo de funções em um mísero espaço de tempo talvez seja justificativa plausível. Produtividade. Fazendo mal ou não, quem é que resiste àquele cheirinho de café passado na hora? Ir ao shopping de vez em nunca e deixar de passar na livraria para consumir algo que contenha a tal bebida feita a partir dos grãozinhos torrados é voltar para casa com a sensação de que algo está faltando.
E o elixir nos acompanha em cada jornada. Logo cedo à mesa, mesmo que religiosamente você encha a sua caneca favorita, não há tempo para sentar-se: engole às pressas defronte a pia da cozinha mesmo, apreciando, ainda que ligeiramente, aquele sabor tão característico. Ah se o gosto fosse tão superior ao aroma. Ligada na 220 w, lembro-me do barulhinho que meu avô fazia ao terminar o cafezinho de meia em meia hora. Um estalo gostoso de ouvir, seguido de um “ah!”. Era o ritual que eu pude acompanhar de perto no decorrer da minha infância. Hoje a canequinha órfã repousa no armário da avó. A fiel companheira de porcelana ainda mantém as duas listrinhas azuis ao redor. No fundo só restou a mancha amarelada, resquícios do excesso de café, e as boas recordações que o avô deixou.
Vem à mente, ainda no mesmo instante, a cidadezinha que morava. E, Drummond que me perdoe, mas algo mais interessante que a pedra ficava no meio do caminho do sítio até o centro: uma torrefação de café. E, novamente o olfato ganhou minha atenção; Ninguém pode com café torrado, ninguém. A estrada para Maringá também acende outra lembrança: chegar à casa da outra avó com o mesmo olfato aguçado: torrando café no quintal, num latão de tinta improvisado e o torrador comprado na feira. Minha tarefa já estava determinada: moeria o café, com toda a força que meus bracinhos haveriam de ter, e faria com muito gosto! Afinal, a atividade era recompensada com aquele pão caseiro e o café feito na hora – e, quem diria, eu mesma tinha moído as sementinhas de cor marrom escuro. A típica família da margarina Qualy.
A bebida indispensável é um hábito que vem se desenvolvendo pelas terras tupiniquins (e ainda acho que a contribuição dos comunicadores conta muito nesses dados). Segundo estatísticas da Abic (Associação Brasileira de Indústria de Café), a média per capta é de 78 litros de café consumidos por brasileiros ao ano. Quanto você já contribuiu este ano? Eu já perdi as contas - se é que já tive paciência para fazê-las. Engraçado como a “droga” também (re) acende tantas lembranças. A mania de se abastecer do combustível para funcionar em meio às terras tropicais é de longa data. De origem etíope, o consumo do líquido se popularizou de tal forma, que impregnou qualquer ser humano a fim de aumentar os níveis de produção. Ou mesmo degustarem sabor tão singular.
Solúvel, descafeinado, espresso, instantâneo, orgânicos, kopi luwak, tradicional. Em excesso. Vai do gosto de quem se arrisca, bem como disse, vícios não são bons.
E vou deixando o anonimato por aqui, que a chaleira indica que a água está fervendo. Viciada, eu? Quem diria!

Nenhum comentário:

Postar um comentário