quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Todo dia...


12 de outubro, Dia das Crianças. Passou sem qualquer significado. Até qual idade podemos considerar uma criança de fato “criança”? Não sei. Há quem diga que a criança nunca morre - se esconde. A minha criança foi substituída por movimentos robóticos. Infelizmente.

Acordar, café, trabalhos, almoço, trabalho, café, faculdade, café, ônibus, livros, cama. Sem sonhos. Programação mecânica, envolta pelo tédio, pela mesmice, pela ausência de cor. Disseram-me que meu perfil era de extremos. Resolvi que crescer funcionaria bem, quando a criança aqui dentro anseia pelo retorno. A mesma que atira as memórias de um tempo bom, espontâneo. De atividades maleáveis, flexíveis. Agora, que sou? Parte do conjunto, peças de metal. Que hora ou outra precisará ser trocada.

E que falta faz? Sem vida, segmentada, obediente. Componente perfeito de um modelo seguido por tantos. Vazio.

Tudo exatamente igual, as mesmas repetições, a mesma nota soada tantas e tantas vezes, agora inaudíveis para que alguém possa ouvir. O grito de desespero, o choro sufocado pelo cotidiano. O cansaço agarrado às olheiras, o combustível agora com gosto de diesel. E o dia das crianças já passou.

Significação para quem atribui, para quando faz sentido. Sequer a data do aniversário fez sentido, comemorar ser criança? Deveria ter libertado, por um instante, a criatura já travada, destinada ao esquecimento. Deveria ter. Tanta coisa.

Mas muito tinha de ser feito, descomemoração, desaniversário, desalimentada, desacordada. Ao contrário. Sempre igual. Diferente.

Acorda!

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