quarta-feira, 10 de março de 2010

Noite em claro

- Ele é nosso amigo, Elisa, o que podemos fazer para tirar ele dessa? – ofegava Elton pela escadaria imunda, esmagando as latas estiradas pelo caminho. O barulho e o cheiro que exalava daquele estreito corredor era capaz de confundir a mente de qualquer um.
- E eu é que sei? Ele é nosso amigo sim, mas o sensato é deixá-lo sair dessa sozinho. Puxa o braço dele mais para cima fazendo o favor.
- Você tá bêbada garota, nem pra me ajudar...
- Ah cale a boca! Foi você que agitou, aguente as consequências agora.
- Consequencias de quais atos? Quem tá pagando por elas é o Paulo.
- Ele vai ficar bem. Confie em mim.
- É em mim que eu não confio, se quer saber. Não confio em mim, por insanamente confiar em você.
- Poupe-me das suas filosofias agora, e vamos tirar ele daqui. – Dizendo isso, Elisa chutou a última lata que se via pelo caminho, o estrondo espantou alguns ratos que se afugentavam por ali em busca de qualquer coisa que tapasse o buraco do estômago.

Carregaram o até então amigo pela entrada – ou saída? Partiram em retirada, correndo daquele porão, ou seja lá que ambiente teriam se aventurado. O que a monotonia fez poderia até causar sequelas que perseguiriam ambos pro resto de suas vidas – se aquilo ali não era o fim da estrada, de fato.
- E eu achando que era dia já! Que horas são Tom?
- Sei lá, madrugada talvez, perdi a noção do tempo. Tem cigarro?
- Tá me devendo dois maços já, mas pega aí – e atirou a caixinha pro amigo.
- Te pago de outra maneira depois, haha – e piscou.
- Não é hora de brincar seu otário, o que vamos fazer agora? Tá esfriando.. eu não posso voltar para casa, e não podemos levá-lo ao hospital.
- O cara tá dormindo velho, deixa ele descansar. Se não aguenta uma vida dessas, não tem porque se misturar com gente como nós.
- O que você quer dizer “como nós”? Até ontem poderíamos ser considerados os malas daquela sala! Os que nunca fazem nada! E agora insinua que somos os errados? Não cometemos crime nenhum, Elton!
- Ainda não, ainda não, Lisa. Tudo depende do que acontecer com o cara.
- Você mesmo disse que ele acordava! Idiota! – estressada, Elisa chutou em vão o ar, cambaleou e segurou-se em um poste. – Bosta! Tá vendo, tá vendo! Torci meu pé, caralho.
- E você disse pra confiar em você! Piada. Pense em alguma saída, em alguma coisa a ser feita! Não é o tempo, o senhor da razão?
- Vou te dizer quem é que está com a razão aqui, me ajuda, por favor?
Apoiando a menina em suas costas, fitou o céu repleto de estrelas, a lua minguante. Será que saberiam a mudança que aconteceria dali em diante?

2 comentários:

  1. Palavrões são importantes. Trazem verdade ao texto. Afinal, quem não xingaria após torcer o pé?

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    Só fiquei confuso um pouco com os personagens, eram muitos e não consegui entender perfeitamente quem era quem na história. :X

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  2. São três personagens: Elisa, Elton e o Paulo (que estava inconsciente).
    Trazem verdade sim, dependendo do diálogo.

    Obrigada pelo comentário, amigo ;)

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