quinta-feira, 18 de março de 2010

Oh captain, my captain!

Ela era líder de torcida. Pareceram-me realmente aquelas cenas de filme americano, que a líder de torcida acaba ficando com alguém do time. Mas ela era diferente das outras, ela nunca se imaginou em tal posição. Nunca quis e não a interessava. Mas ela não conseguiu lugar contra as inclinações do destino. Estava ali, para quem quisesse ver: ela estava apaixonada pelo capitão do time do colégio. Sentia vergonha por não conseguir admitir para si mesma o que estava sentindo, mas é que, de certa forma, ele teve boa parcela de culpa.

De uns tempos pra cá eles sempre conversavam. Ele a ajudava com os deveres de casa, com as dificuldades que ela encontrava. Era um tipo de super-herói que ela nunca sonhou em conhecer. Será que todas as meninas ali do vestiário conheciam o melhor lado do ídolo delas? Era o comentário de todos os intervalos. Como ele era charmoso, como era estiloso, e como era... Cafajeste. Sim, uma por semana. Será que só faltava ela dali para completar o álbum de torcida de colegial que ele supostamente poderia ter?

Ela não conseguia acreditar que as intenções dele eram essas. Porque o capitão faria isso? Para gabar sua popularidade depois que conquistar todas dali? Mas era tão encantador. Não, não poderia ser. Todos estavam errados. Ele era diferente, e ela provaria isso.

E provou, com o passar dos dias, o quão doce poderia ser aquele garoto. Que movia montanhas para deixá-la contente. Que ligava para saber como estava. Que dava todo o apoio do mundo em suas escolhas. Ela estava entrando em um terreno que sabia bem, não teria volta sem seqüelas. Ele? Ele parecia corresponder às expectativas. Felicidade maior ela não encontraria, não se não fosse ao lado dele! Era o que mais queria, no final das contas.

Mas não contava com a persistência do melhor amigo em botar obstáculos nesse romance água com açúcar. Ele sempre a alertara de que bom moço ele nunca foi. Era um personagem, até conseguir o que queria.
- É tão difícil acreditar em mim? Ele vai te enrolar, acredita em mim.
- Comigo ele é diferente, de verdade. Não conheço o lado ruim dele.
- Você merece coisa melhor, você sabe disso.
- Eu não sei se quero acreditar que exista lado ruim. – finalizou ela.

Era um pouco de ciúmes sim. O amigo não o aprovava, tinha os motivos dele, que até onde sabia, não tinha nada a ver com a decisão dela. Ela nunca saberia se não arriscasse. Acordava pensando nele, dormia com o mesmo pensamento. Mas por sabe-se lá qual motivo, o alerta do amigo nunca lhe saía da mente também. Ela não jogaria uma amizade de cinco anos fora por um cara que conhece há algumas semanas, jogaria? Se ele estava dizendo, tinha fundamento. E ela resolveu brecar o desenrolar da história. Resolveu que o faro para situações erradas estava ativado, e bem dizia sua mãe, onde há fumaça, há fogo. Não tardou a descobrir alguma podridão do rapaz. Ele deveria temer muito o que aprontava, pois fazia tudo de caso pensado – e pior, escondido! Poderia ser quem quisesse ser, teria quem pudesse ter. Era um patife.

Provou mais ainda, do próprio erro, em aflorar a inocência por uma imagem construída intencionalmente. Tal qual lobo mau e chapeuzinho. Mas ela não seria vítima, não seria. Era tentada a continuar aquela história. O conflito emocional versus a razão que almejava prevalecer. De súbito, decidiu: não seria mais uma. A frustração seria grande por não completar o grupo de meninas de torcida. Mas ele também sabia que ela merecia coisa melhor. Sabia muitíssimo bem que não agira de forma humana. Que não prestava, era covarde, um oportunista. Era o tipo que toda garota sonhava, até que se prove o contrário. E quando se prova, ah meu amigo...

- É, você tinha razão.

3 comentários:

  1. Bem isso mesmo. Quando amamos somos cegos. nem sempre somos tão espertos no final, como o foi a menina do seu conto. Já senti a dor de saber como é descobrir que a pessoa que vc achava que era especial, na verdade era enganadora.

    o texto está especial, posso dizer que é um de meus preferidos. Parece um sonho que alguém poderia sonhar...
    XD

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  2. Maldito capitão.

    Mas a garota é mais que esperta. Tenho certeza que o amigo teve orgulho dela depois de sua decisão.

    Você sabe, nunca se é culpado por apaixonar quando, do outro lado, o que vemos é uma máscara.

    Os crédulos acreditam que aquilo lá é verdade. Até eu vivo desta maneira. É tão triste acreditar que tudo é falso, não é mesmo?

    As vezes o tapa na cara, a decepção e tudo que ela acarreta é menos amarga do que sempre duvidar de um possível sentimento.

    Enfim... parabéns a garota. Ela agiu da maneira que eu também agiria.

    E tenho orgulho dela...

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  3. Oi Ana
    Obrigada pela visita lá no blog...
    Meu livro é catalogado como uma autobiografia, mas não acho que chegue a tanto...
    Falo um pouco de mim, mas, na verdade, ele é um relato do que vivi quando fui presa. Escrevi um diário naqueles dias e ele se transformou no livro.
    Beijão

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