segunda-feira, 1 de março de 2010

Ídolo

Era início de noite, eu atravessava aquela rua de tantas recordações. O céu mesclando o azul com riscos brancos e amarelos de um dia excepcionalmente brilhante – e quente! Fitei meu all star, tão azul quanto o céu daquele encontro entre o dia e a noite. Sinal vermelho. Passei pela faixa de pedestres recordando aquela capa de cd tão conhecida, pelo subliminar e pela excelente composição e sucesso que os quatro ingleses alcançaram.
Observei meu reflexo desfigurado no vidro que cercava uma loja de móveis. Iam de verde para o amarelo, e então vermelho – uma sequência lógica para os motoristas que quase não transitavam a esse horário. Estranhei a calmaria. “Deve ser o final de semana”, pensei. Ainda vendo as cores brincarem com o tom do meu cabelo refletido, notei que dentro da loja escura havia cadeiras de madeira, sofás e quadros esperando pela venda. Um grande número mostarda avisava que era algum tipo de promoção. Os objetos já estavam imersos em breu para que eu fizesse uma análise mais detalhada.

Parei com os devaneios e rumei para a locadora, pensando qual seria o filme da vez. Eu poderia escolher uma comédia romântica, mas provavelmente não gostaria de ficar chorando pela utópica felicidade do casal. Talvez um drama, um suspense. Estava cansada de sessões de terror. Acabei optando por um musical, de qualquer forma, era só para passar o tempo. Voltei pelo mesmo caminho, mesmo reflexo, sinal verde amarelo vermelho, faixas capa de cd. Agora definitivamente anoitecera. Olhei para certo canto da esquina – outrora havia estagnado bem ali, o que eu chamaria de inspiração. Agora tudo era insanamente sombrio, as coisas pareciam estar no lugar, embora eu não reconhecesse mais minha idolatria de fã.

Ele ainda era meu ídolo, mas será que continuava isento de pecados?

2 comentários:

  1. Beatles e sua mais famosa capa, hahaha.

    Também acho essa aparente sombra sobre o que achavamos belo até pouco algo tenebroso, mas não temeroso.

    Engraçado, se o ídolo ainda existe, como a sombra pode parecer tão presente? Talvez as coisas não sejam mais tão unilaterais quanto antes. Não?

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  2. Olá, Ana Luiza!

    Gosto muito de ler o que escreve. Muito bom!!

    Abçs

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