domingo, 24 de julho de 2011

Liga ações

Esse silêncio é minha agonia. Será que falei demais? Fiz tudo errado. O que era pra ser? Por que é que eu nunca consigo ficar quieta? Ou falar a coisa certa? E essas horas iguais? Que brincadeira mais boba. De nada significam, mas só querem significar... O tempo tá passando.

Esse silêncio é minha agonia. O que ele estará fazendo agora? Em casa, na rua, nos meus pensamentos? Onde é que eu estou agora? Será que tenho onde morar? Tenho um espacinho ali, naquela vida? Mas é tão simples: o telefone está me encarando há horas. Será?

Tateio as teclas. Vejo o plano de fundo. Desligo. Não.

Esse silêncio é minha agonia. Volto a ligar o aparelho vermelho meia hora depois. Será que ligo? E vou falar o quê? Ainda bem que pelo telefone ninguém pode ver meu rubor. Eu nunca fui assim. Alguém pode me dizer o que está acontecendo? Eu deveria reconhecer o que há, mas não o faço. É diferente. Ligo?

Horas iguais.

Esse silêncio é minha agonia. Vou dormir. Mesmo sonho. Cinco sonhos. Mesmo protagonista. Será possível? Acordo. Que horas são? Mais uma vez, iguais. Dá pra parar? Eu me conformo? Pego o telefone nas mãos, elaboro um discurso mental – o que eu diria? Manter um diálogo com a respiração ofegante não seria possível. Mentir que a gripe me deixou sem voz também não dá. “Ah, liguei por engano, desculpa”. Ledo engano.

Agonia. Agonia. Agonia.

E agora? Que martírio. Que silêncio. Que sensação ruim. Por que ligaria? Ouvir aquela voz mais uma vez seria um reconforto e tanto. Que coisa besta, ficar feliz em ouvir a voz. Um “alô” qualquer. Liga para qualquer pessoa. Manda uma mensagem, então. Não sei o que mandar. Claro que sabe. Não. Por que não liga? Medo. Tenho medo.

Esse silêncio é minha agonia. Vou ficar quieta. Vou ficar no meu canto. Vou ficar por aqui. Não. Vou ficar pensando, pensando e pensando. Vou ficar querendo, e tentando. Vou ficar perturbando quem não merece. Tá tarde. E daí? Liga! Não vou ligar. Mas você liga tanto pra isso, então liga! Eu me importo demais para ligar.

Agonia. Tá se fazendo de difícil? Não é isso. Ele pode pensar que você não liga. Mas eu ligo, ligo sim. Então o que está esperando? O tempo tá correndo, tá voando. O que tem a perder? Por que é que eu pondero minhas ações? Eu deveria ligar. E perguntar se está tudo bem. O que é que ele está fazendo. E ouvir aquela risada. E ficar feliz com o “Hey” no lugar do “Alô”. E eu faria uma voz feliz, e tentaria disfarçar meu constrangimento.

Tudo está tão quieto. Eu não deixaria espaço para o silêncio. Nem para a agonia. Eu falaria qualquer coisa que viesse em mente, só para ouvir qualquer resposta em troca. Só para me perguntarem se eu teria bebido qualquer coisa com álcool. E me faria de boba. De desentendida. Fingiria bem, muito bem. Sou perita nisso. Eu não ligo. Por que é que você não toca?

Esse silêncio é minha agonia.

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