quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Thriller movie

Quem nunca foi a uma pré-estreia, que retraia a vontade de mandar o desconhecido ao lado ficar, por um instante, quieto. O popular ‘cala a boca’ - aliás, ouvi bastante esse dizer, que ecoava aos montes na sala 5 super lotada. A cena típica: fila gigantesca, formada pelas mais distintas espécimes humanas – ou próximo disso. Disputa por pipoca e refrigerante. Cá entre nós, não há pipoca igual a do cinema. Um dia hei de descobrir a receita daquela manteiga – seria o prazo de validade vencido? De qualquer forma, a procura pelo milho estourado era absurdamente previsível.
No banheiro, a disputa pelo espelho central que, em vez de ser utilizado para que os usuários averiguassem a própria imagem, refletia garotas fazendo poses e bicos para tirarem fotos com uma câmera cor-de-rosa. “Essa ficou linda, vou por no perfil”, “Amiga! Que maravilhosa... você ficou ga-tís-si-ma!”. Minha vontade era enfiar a cabeça no vaso sanitário e dar descarga. A cabeça delas, claro. Vislumbrei álbuns em redes sociais intitulados “No xóps”, “Antes do cine” ou “Friends 4 ever”. E provavelmente acertei um desses.
Esqueci de comentar a respeito dos espécimes que aguardavam a porteira abrir. Me senti velha. Muito velha. Seria um absurdo a criançada estar fora de casa em plena quinta-feira de madrugada, ou mais absurdo ainda seria uma tia (sim, perto da creche do papai, me senti uma tia) ter comprado bilhete para a pré-estreia? De Harry Potter. E qual o problema em gostar de histórias fantasiosas e querer assistir ao filme com antecedência? Ok, uma falsa antecedência, visto o atraso para que o longa chegasse até minha cidade. Que nem é tão tão distante.
Uma fobia de estar ali no meio apoderou-se de mim. Mas enfrentei os fãs mais ousados que levavam bolsinhas de coruja – ah vá, a Edwiges é a primeira que vai pro saco – entre outras peculiaridades que possivelmente eu só pude conferir ali. Rumei até a sala. Já mencionei que meu bilhete coincidia com a primeira fileira? Sim, primeira. Eu já havia previsto um torcicolo daqueles depois da sessão pipoca. Dor no pescoço que ficou no chinelo, perto da algazarra que começou quando a tela acendeu.
Histeria. Propaganda. Mais histeria. Símbolo da Warner. Demência. Primeira imagem do filme. Inconsciência. A sala 5 estava repleta de gente desvairada. Pior ainda, deixando-me em estado semelhante. De raiva. Atores aparecendo aos poucos, personagens da minha pré-adolescência contemplados com gritos. Era a sessão terror. Thriller movie na sessão madrugada do cinema da cidade. Só não saí correndo dali aos berros por que... Eu realmente queria ver o filme.
Vou poupar meus elogios para a adaptação da primeira parte do último livro – e se você não gosta de Harry Potter, o problema é todinho seu – tudo corria bem, até a tela resolver dividir-se ao meio. Artístico, ironicamente. O sono dos lanterninhas atrasou a estabilização da tela, que veio após alguns minutos de meia-tela e urros dos estressados. Credo gente, estresse desde cedo cria rugas. E cabelos brancos. Com a suposta normalidade, achei que já tinha acontecido de tudo. Voltar para casa antes das três era missão impossível até então.
Não. Pausaram o filme, como se fosse um DVD alugado para assistir no aconchego do meu sofá. E voltaram até a parte em que o maldito corte resolveu roubar a cena. Respirei fundo, observei os cidadãos levantarem das cadeiras, remexerem-se, abusarem um pouco mais da voz. Vamos rever a cena. Tudo bem... Era uma parte que eu havia elogiado, a ideia ficou muito boa. E vi de novo, sem fôlego para reclamações.
Tensão, tristeza, ação. Ouvi soluços e narizes. Choro. Os créditos começaram a rolar ao som da típica trilha sonora e esperei a luz ficar acesa para que pudesse me retirar sem correr o risco de tropeçar no meu próprio all star – o que não seria de se estranhar. Nada de luz se acender. Atípico. Arrisquei-me andar até a luz no fim do túnel e tentar sobreviver nesse breve espaço de escuridão e gente se embolando. Comentários audíveis do filme. Eu queria de novo. O filme, somente o filme.
Desci as escadarias do shopping, conversando com alguém que realmente entendia minha indignação. Entre xingamentos, pérolas e exclamações sobre o que acabávamos de vivenciar, a conclusão era óbvia – diferente da noite:
- É isso que dá vir em pré-estreia;

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