segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Nada é tão ruim que os argentinos não possam piorar

""Maradona analisa possibilidade de treinar time no Brasil, diz escudeiro de técnico". Desligado oficialmente do comando da seleção argentina, Diego Maradona pode até continuar sua até agora curta carreira de treinador no futebol brasileiro. Isso é o que diz seu fiel escudeiro e auxiliar técnico, o ex-jogador Alejandro Mancuso."
Folha Online – publicado em 29 de julho de 2010, atualizado às 7h03

Aturdido, não conseguia engolir que o tricolor tomou de um a zero. Apoiei os cotovelos nos joelhos, segurei a cabeça – visivelmente decepcionado. Fitei o chão cor de tabaco, ainda exalava a produto de limpeza. Vislumbrei um fragmento do dia seguinte, a caça aos bambis certamente estaria no ápice da descontração alheia. Respirei fundo. Os caras no trabalho com certeza pegariam pesado. Já tinha recebido mensagem no celular avisando “dá-lhe Inter!” e fingi estar sem créditos para responder.
Seria prudente inventar alguma desculpa. Alguma doença grave – era válido, ao menos evitaria aborrecimentos. Quiçá, salvaria até mesmo meu emprego. Maldita hora em que fui trabalhar para um corintiano.
Entre um plano mirabolante e outro, reconheci a música do jornal. Era o último telejornal da noite, e eu torcia para que em momento algum fosse mencionado o “caso do goleiro Bruno”, ou seria obrigado a desligar a TV. Eu tinha de tirar da cabeça os erros de gramado – estava decidido. Concentrei toda a atenção no apanhado de notícias que a Christiane Pelajo prontamente anunciaria.
Ah, mas se arrependimento matasse... Mick Jagger teria torcido pela Alemanha nas quartas de finais ou eu teria ido dormir mais cedo. A reação, quase que instantânea, foi de incredibilidade. “Diego Maradona assume posto de técnico da Seleção Brasileira”. Diego Maradona. Ma-ra-do-na. Não podia ser verdade, deve ter dinheiro por trás disso! Explicação lógica para um fato sem nexo algum. Ver aquele barbudo faceiro acenando, como se tivesse ganhado na mega-sena, bastou para que a frustração de 2014 se consolidasse.
O apito ao final do jogo soou. Estava encerrado, era hexa. Finalmente o hexa! Sob os cuidados daquele que por baixo da camisa verde e amarela tinha impregnado na pele a cor azul e branca. Frustrado como qualquer patriota de época, ouvi atentamente o apito, que não parava de tocar. Barulho mais insuportável que a própria vuvuzela. Parecia até mesmo o meu...
Abri os olhos, a claridade invadia o quarto. O ruído ensurdecedor tremia o criado-mudo e acordava o restante da vizinhança. Bati a mão com força para desligar o despertador, fazendo um estardalhaço ao derrubá-lo no chão. As pilhas foram inescrupulosamente arremessadas para debaixo da cama, obrigando-me a percorrer o mesmo caminho, engatinhando, à procura do relógio, que pairou sobre um jornal da semana anterior. “Mano Menezes assume a Seleção Brasileira”, era a chamada de capa.
Esfreguei os olhos, encarei novamente a página de esportes. Foi o suficiente para que a derrota da noite passada nem tivesse existido. Aliviado, fui passar um café antes de começar mais um dia de trabalho. Enquanto o aroma característico imbuía a cozinha, liguei a televisão.
“Pesquisa Ibope aponta Dilma com 39% e Serra com 34%”. Aninhei a caneca com o café novo por entre os dedos, levando o líquido à boca calmamente. Levantei-me, deixando a louça na pia, desliguei a TV. Bati a porta, encarei a rua, lembrando da última notícia que ouvira. E o dia mal havia começado...

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