quinta-feira, 15 de abril de 2010

Free as a bird

Quanto mais eu encarava a placa indicando perigo, mais eu queria persistir na mesma direção. É como se uma força superior sugasse toda a minha vontade de querer chegar até lá, descobrir os mistérios envoltos naqueles indicativos longínquos e vermelhos, que somente pela tonalidade, eu poderia adivinhar minha imprudência em dar o passo seguinte.
O chão de terra era decorado por uma vegetação rasteira, garrafas de vinho barato atiradas por toda a parte, latinhas de cerveja exalando aquele odor peculiar da bebida “chocha”. Sinal de que ninguém transitava por ali desde que o quase outdoor fora instalado. Forçava a visão sem a ajuda das lentes agora, em busca de um sinal mais adiante.
Eu sabia que estava perdido, por uma estrada que a volta talvez tardasse a chegar. Em minha memória lances de lembranças já empoeiradas transfiguravam-se na bagagem que eu quisera deixar para trás. Pé ante pé, por vezes enroscando meu all star surrado em algum ramo seco, tentava seguir em frente. Já não tinha mais medo, não tinha nada a perder. A adrenalina jorrada em minha corrente sanguínea pulsava em minhas têmporas. Fitei as mãos de unhas carcomidas pelo nervosismo presente, enfiei-as no bolso da jaqueta de couro preta.
Cheguei ao que parecia toda a prevenção da placa. Para muitos, um beco sem saída, o fim de tudo. Um precipício. Eu não aguentava mais prender minha alma daquela forma. Para muitos, a despedida. Para mim, o vôo de um pássaro livre.

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