terça-feira, 15 de setembro de 2009

É também despedida

Desde o momento em que o avistou, com o olhar sobressaltado e o coração palpitando de alegria, não se conteve em arremessar-se no abraço que mais precisava nas últimas 48h. O fato descoberto na saída imprevista do final de semana somou-se a falsa esperança já acumulada, e que ela sabia bem: teria de sair dali o mais rápido que pudesse. Em uma fração de segundos a presença dele deu sentido à viagem totalmente fora de cogitação: estava em casa.
Procurando aliviar a saudade – oh, sentimento horrendo! – conversavam sobre tudo o que viesse em mente – só havia aquele momento para aproveitar a companhia mútua. Logo veio a apresentação tão esperada, a música de fundo e, finalmente, o jantar. Seguiram para a fila que se formava, aguardando o momento em que saciariam a fome, quando discretamente uma senhora postou-se logo atrás do garoto de cabelos louros. Incrivelmente mais baixa que ele, a mulher tinha uma pele translúcida, com a textura de papel de seda, dando a impressão de que rasgaria com facilidade. Cabelos cor de bronze e os olhos verdes que se assemelhavam à cor da garrafa de guaraná que cada mesa no recinto suportava.
Cuidadosamente analisava o casal à frente, visivelmente entretido com a letra de Tom Jobim. Cutucou o rapaz, dizendo:
- Vá mais pra lá, fique perto de sua namorada!
A garota de cabelos castanhos e pele tão branca quanto à folha de seda olhou para o suposto namorado. Os olhos dourados dos dois riam, e as risadas ecoaram pelo salão.
- Não, não. Ela é minha amiga! – explicou-se o lourinho de nariz avantajado.
- Meu irmão! – retrucou a branquela.
- Tão amigos, quase irmãos – concluiu com um ar de superioridade.
Desconcertada e levemente corada, a senhorinha não hesitou, comentando logo em seguida,
- Mas isso é muito bonito! Que amizade linda! Difícil ver coisas assim hoje em dia... – e se afastou envergonhada.
Preocupados com a janta, trataram de pegar o que agraciava o apetite e ocuparam seus lugares na mesa, junto com os outros amigos, relembrando e rindo do fato que tinham acabado de presenciar. No mais tardar daquela noite que marcava o início de uma longa semana, adentraram o automóvel e partiram rumo ao momento indesejado. Com o santana azul marinho estacionado frente ao condomínio onde ele morava, chegou a hora que a menina de bochechas rosadas não suportaria enfrentar: o adeus.
Doía, fragmentaria a alma, sabia bem. É uma das piores sensações que uma pessoa poderia ter. Abraçaram-se demoradamente, quando ele beijou-a ao rosto com ternura. Segurou-a pelo braço enquanto ela fitava o nada, procurando esconder o olhar transbordante. Tudo consequência daquela inviável situação.
- Eu estou te dando tchau! – disse áspero, talvez pela disfarçada indiferença dela.
Dilacerada, abaixou a cabeça. Foram poucas horas, mas o suficiente para confirmar o imenso carinho que sentiam um pelo outro. Sem conseguir encarar aqueles olhos tão severos, abraçou-o novamente sem dizer uma palavra. Observou o caminhar dele até a porta de entrada, até desaparecer.
Não queria um adeus, nem mesmo um até logo confortaria a pobre moça. Era notável o que realmente ansiava.
- Meu irmão!

3 comentários:

  1. Como todos disseram: profundo. Muito bom o seu blog, gostei dele!

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  2. Profundo. [3]
    Sei que o comentário tá atrasadinho, mas vale esse ano, né? ;]
    Beijos,
    Carlos.

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