quinta-feira, 12 de abril de 2012

Essas coisas que faz toda mulher

Toda mulher tem todo aquele ritual de beleza. E a cada manhã o dela se repete. Levanta, esfrega os olhos, aninha-se delicadamente por entre o lençol sedoso e o edredom fofo. Ajeita a cabeça no travesseiro novamente como se houvesse mais horas de descanso, aspira o leve perfume de creme de morango grudado na pele. Fita a parede ao lado, com aquele quadro psicodélico da banda que mais gosta. Levanta.

Dirige-se ao banheiro para o primeiro banho do dia. Lava o rosto, canta para despertar a música que vier à mente e escova os dentes. Corre para frente do espelho para dar início ao ritual necessário. Corretivo, base, pó, blush. Lápis, rímel, sombra castanha. Nos dias de bom humor, um delineador não faz mal a ninguém. Por vezes gloss e batom. E então está apresentável para saudar a rua. Ou a rua lhe saudar.

Antes de sair passa perfume atrás das orelhas e nos pulsos. Ajeita o relógio no braço esquerdo e adianta os brincos prateados nos lóbulos. Encara o feitio no espelho mais uma vez, confere o visual e parte. Volta somente à noite, na hora em que muita gente já está se preparando para dormir. O cansaço lhe consome até a raiz dos cabelos, e é preciso muito esforço para continuar – Morpheu a espera para o abraço de todas as noites.

Banho, pijamas, creme de morango. Fita o espelho e sente raiva da maquiagem borrada ao redor dos olhos. Sente-se uma panda, muito diferente do visual impecável da manhã. Prepara o demaquilante, lava o rosto mais de três vezes com sabonete de erva doce. Assustada, sente-se observada por alguém que não é familiarizada. Aperta os olhos, e a confissão é repetida por outrem. Arqueia as sobrancelhas. Abre a boca para falar, mas não consegue. Quer gritar, berrar, os olhos enchem d’água. E nada.

Há ainda a mancha preta abaixo dos olhos. Não há sabonete que tire. Produto que remova. Maquiagem tão boa que pinta a alma. Deixa delineado na expressão o que não é possível retirar com água. Nem com a melhor noite de sono que possa lhe proporcionar. Não durante a semana. Ainda assustada, analisa de perto o ser indiferente do outro lado. Reconhece-se no fundo dos olhos. Pertuba-se e deita. Que amanhã o ritual de beleza é para mascarar o que desconhece.

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