segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ele um dia volta?

E eu nunca tive tanta certeza de que o futuro é lá fora. Que o anseio de pisar fora da linha argumenta bem com o medo de um passo em falso. Errôneo. Entre malabares e equilíbrio numa corda bamba, como quem não sabe sambar e tenta. Tenta a ponto de cansar os pés, dobrar os joelhos e clamar por... Por o quê mesmo? A vida é lá fora. No quintal de casa, na estrada que vai delineando o destino. Do rio que entrecorta e muda a paisagem. E eu nunca quis tanto. E quero. E instigo a um próximo passo. A andar em equilíbrio – ou simplesmente desequilibrar. É preciso, sabe? Fugir da rota. Andar além. E descobrir.

O que é que tem? É logo ali – avisou de antemão o viajante. E era mesmo, um casebre a moda antiga, decorado por madeira consumida por cupins. Desfigurado como quem espera a mãe que já não volta mais. A estrada chama. Aguça os sentidos, apura os ouvidos – sente ao longe? Vai passar. Mas nunca sabemos quem. Ou o quê. Mas passa. Lá vem ele, fazendo a curva. Um carro de boi e um bigodudo risonho. Pegue carona e vá.

Carrega a trouxa nas costas. Ele que de trouxa tinha só o que carregava. Levanta o braço, sacode o polegar – estaciona. “Suba rapaz! Pra onde vai?”. Pergunta difícil. E agora? Adiante, sempre. Vá em frente! Sobe no caminhão, olha para trás. Dois bois, uma vaca. Cheiro de merda. E o vilarejo deixado num passado remoto, de quem já não enxerga depois de alguns quilômetros. Fantasmagórico, abandonado. Deixou ali a vida de peão. E as memórias.

Partiu com seo João, dona Maria, Teobaldo. Pra nunca mais voltar.

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