quinta-feira, 12 de maio de 2011

Reprovação

É como se o mundo só fizesse sentido naqueles tons, de marrom e roxo. Dois planetas empilhados, um no colo do outro. Como um abraço. Mesclando os tons, fantasiando com um chapéu de palhaço. Olhava para aquela cena tão irreal agora, tão distante; Com os pensamentos vagando. Pelo choro entalado na goela. Pela gotícula querendo saltar, em efusivo suicídio.
Acabara de absorver o que havia me passado. Entrar naquele carro sempre me amedrontou. Ajeitei o banco de modo que alcançasse a embreagem, ajeitei o retrovisor, coloquei o cinto de segurança. Estava pronta. Dei partida, tirei o freio de mão. Era fácil, já fizera repetidas vezes... que não notei a falha tão próxima. Que mal notei minhas mãos trêmulas, meus pés batendo insistentemente no chão do veículo. Justo agora, que queria tanto me livrar desse peso. Desse medo.
Olhei pelo retrovisor, lá estava ele. Uniformizado, usando óculos escuros daquele estilo aviador. Ao encarar, fiquei surpresa. O medo assumia outra forma. De menina assustada, aquela loirinha ali dentro do carro. Errando os passos, perdendo o tempo, eliminando o resquício de equilíbrio que lhe restava.
Pare o carro. Desligue-o. A voz era quase robótica.
A situação já estava longe, sentia o coração parando ao virar a chave. Havia desligado o carro. Me desligado completamente. E veio, aquele moço gigantesco e outro menorzinho, em sinal de solidariedade com a colega que acabara de conhecer, tentando proferir algumas palavras de conforto. O abraço coletivo e o desejo de boa sorte até poderia comover aquela estátua. Aquela cena congelada. O conforto que não veio. A frustração agora, sentada ao meu lado naquela lanchonete dividia comigo um sorvete. Sorvete de uva ao creme e brigadeiro. O palhacinho que sorria para mim. O reflexo que zombava de mim. Aquele medo velho conhecido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário