sábado, 8 de janeiro de 2011

Gatos gordos e outras coisas

É em tardes assim que eu sento na varanda e vejo o sol se pondo. Noites de verão estão chegando, a luz partindo e a saudade permanecendo onde deveria e sempre esteve. Sento-me nos degraus, defronte a rua parada. É fim de ano. A monotonia incorpora e direciona o olhar. O fim de tarde, os pensamentos. Eu sabia que do meu lado direito deveria estar alguém. Você sabe, ainda que no fundo, que o lugar será sempre seu. O cão chega, abanando o rabo, sem conter a felicidade em estar perto. Afago as orelhas e apanho-o no colo. Lanço um olhar maternal, era realmente o que precisava. Amor incondicional de um animalzinho que não se envergonha em demonstrar o que sente. Atitude que pouco tivemos. O cultivo que terminou com o que sequer começara um dia. Numa tarde como essa. Há dois anos.
Meu amigo, sei bem o que diria. Que isso é coisa de gente carente. Que mora sozinha e cuida de um gato gordo. Rebato a afirmação, dizendo que isso é coisa de gente nostálgica. Que tempera a vida com uma pitada de tragédia e boas doses de drama, pra continuar caminhando. Sentando na varanda, numa tarde de verão. Igual essa. Com o cachorro no colo. E, se puder, pensando em como era bom poder sentir que no peito havia um espaço preenchido. Hoje coberto por uma espessa camada de arrependimento.
E mais um ano vai. Sem pontos finais, com inúmeras vírgulas. Algumas exclamações é verdade... E quantidades exaustivas de interrogações. Como haveria de ser. Ninguém precisa de amor incondicional. Precisam de compreensão. Sentar, observar. Só o que resta. Deixar o tempo colocar tudo no seu devido lugar... Como última esperança, para dizer que um dia foi verdade. E que valeu a pena. Ter feito, ter esperado. “Não pensar no que foi, mas no que ainda pode ser”. E afagar um gato gordo, só como forma de protesto às tardes intermináveis e as noites de insônia. E aos comentários do amigo que ainda ousa dizer que consigo ser sentimental somente com as palavras. Viu, só? Quem disse que a Ana não tem coração?

Um comentário:

  1. Ana não só tem coração, como não dá descanso para o pobre coitado, kkk. Mas ante sua carência nostálgica de afagos em gatos gordos, prefiro entender essa compreensão que você diz como frações de amor, pesadas e medidas por um destino barbudo e muito sacana, que coloca os saquinhos cada qual a seu lugar e seu tempo.
    Adorei seu texto, vc sabe. Como disse no email, é analuizístico, kkkk.

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