quinta-feira, 24 de junho de 2010

Luto

Queria voltar aqui com mais tempo, com mais crônicas e com mais fotos. Talvez do post de hoje crie-se uma narrativa que consiga exemplificar melhor o que tantos estão sentindo agora, e que não consegui expressar bem no que segue adiante, mas tentei.

O plano terrestre para uns serve momentaneamente de moradia para a grandiosidade que o espírito poderá alcançar quando tiver plenitude de divagar sem se prender ao campo material. Falo de alma, de sentimento, de ações. Refiro-me, sufocando o sentimento de perda, pessoas que poderiam estar mais próximas. Que eu poderia ter feito do contato em eventos, amizades plenas e duradouras. É assim que nos referimos às amizades construídas dentro de uma família. Critiquem ou não, existem pessoas que fazem da família Rotária uma segunda família e que, notícias bruscas ecoam os flashs da última vez em que vimos os envolvidos, explanando toda aquela alegria de quem tem gosto pela vida. Como de praxe, penso no que estou fazendo da minha própria vida e de que forma posso melhorá-la, seja deixando de levar a sério algumas situações ou mesmo ignorando comentários alheios.
Sem rodeios, toda perda traumatiza. Toda perda é lembrada. Em alguns casos, em especial este, fere. Feriu o que chamamos de companheiros, de gente do bem, de pessoas com potencial extraordinário. E recordo que palavras assim geralmente são pronunciadas logo após a tal perda. O pensamento de injustiça aflora e questiono-me desde cedo: por quê?
Conversando hoje no intervalo de aula com minha professora e mais um amigo, colocamos em questão o que já havia passado pelos pensamentos desta criatura atordoada que escreve – e se eu estivesse trabalhando no jornal, tivesse de conferir quais foram os “presuntos” do dia para divulgar notas de falecimento e me deparasse com nomes conhecidos? As pontadas na cabeça e os olhos lacrimejando, escondendo-se atrás do óculos redefiniram meu estado. A postura profissional e psicológica constantemente é posta em choque e, em casos assim, tão rotineiros para as redações da vida, acabariam por tirar uma, ou duas noites de sono – não só minha, é verdade, mas de uma cidade inteira que declarou luto oficial pela tragédia. Por um distrito que uniu e fortaleceu, no mínimo, orações de conforto por todas as vidas esvaídas e todas as que foram atingidas de alguma forma.
Seja por compartilhar a dor do próximo ou mesmo sacudir a angústia descendo e subindo de elevador na garganta, o sentimento é universal.
Esforcei-me para escrever algo digno, algo que jornais não têm tempo de fazer – homenagear todos os acidentados, de todos os dias. O projeto de homenagem não passou de um grito ecoando pelo corredor escuro que um dia todos nós teremos de atravessar.
Sobe mais um nível estatístico de acidentes de trânsito, sobe a bandeira preta do luto de tanta gente. Eu subo a bandeira branca e clamo por paz. Aos familiares, aos amigos, aos que se sensibilizaram com o acontecimento. Eu quero paz!

3 comentários:

  1. infelizmente nao há o que fazer! imagino o que se passa na sua cabeça, imagino o que se passa em seu coração e posso ver a dor que sente. palavras nao vao amenizar ou liquidar esse sofrimento, mas espero que ela com o tempo acabe. é triste saber que esse é um fato imprevisível, inadiável e que certemente todos nós teremos de passar um dia. quando voce disse "e se eu estivesse trabalhando no jornal, tivesse de conferir quais foram os “presuntos” do dia para divulgar notas de falecimento e me deparasse com nomes conhecidos?" me vi ali, porque milhares e milhares de vezes pensei nisso, nao como jornalista, mas como médica, e se eu estivesse de plantao e tivesse que cuidar de um paciente terminal ou em coma e este fosse alguem próximo? é de partir o coração.várias e várias noites me peguei chorando por nao saber o que fazer, nao saber pra onde ir. Enfim cheguei a seguinte conclusao: de nada adianta se perguntar o que poderia ter sido, mas o que ainda pode ser!
    Na realidade só passei pra te dizer que te admiro muito por toda essa força e por tudo o que vc cresceu até hoje! pode até ser que eu esteja longe e nao possa ver muito bem, mas apesar da distancia, eu, mais que muita gente ao seu lado, posso ver que vc amadureceu de uma forma surpreendente nesses ultimos anos. saiba que se pudesse, faria como num passe de magica esses sentimentos ruins desaparecerem. infelizmente nao posso, mas posso te dizer que te amo! e estou aqui bem ao seu lado pra sempre!
    beijo
    kinha.

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  2. Foi uma das notícias que mais mexeu comigo nos últimos tempos. Não só para Alto Piquiri ou Umuarama, mas para toda a região que vê sua juventude indo e vindo de Umuarama atrás de estudo é algo chocante e absurdamente, mas muito absurdamente, trágico.
    Bom saber que também há alguém sentindo e pensando em quão significativa foi esta tragédia.

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  3. Por conviver com as palavras morte, acidente, cemitério desde antes de eu me entender como gente e pela morte nos noticiários em geral nos transmitem informações numéricas e não humanas, não vemos ou não perebemos o sofrimento das pessoas que perderam alguém querido, então sempre encarei a morte com certo descaso, nunca soube o que era a dor de perder alguém, pois nunca tinha perdido alguém realmente próximo, até que certo dia recebi a notícia que um amigo, pessoa que frequentava minha casa, que eu frequentava a casa, conhecia os pais, irmãos, que aprontávamos juntos na escola, que havia visto a poucos dias com saúde, conversando, nunca mais faria nada daquilo que gostava de fazer, não teria mais um futuro, não seria mais o orgulho dos pais e o exemplo para os irmãos, aquela notícia me derrubou de tal forma q durante dois dias chorei quase que ininterruptamente, e então descobri que a morte não é algo tão exterior assim.
    A partir daquele momento descobri q sou muito mais suscetível as mudanças à minha volta do que imaginava, mas ainda assim continuo um tanto quanto gélido à casos distantes de minha realidade. No entanto em 2006, meses antes do fato descrito acima, se não me engano, eu ganhei uma nova família, uma família que muda seus membros ano após ano, mas que no entanto em minha vida essa família só aumenta, pois quando alguém cruza meu caminho nessa família e deixa algo positivo, essa pessoa passa a ser da minha família para todo o sempre, independente se continua ou não participando do interact ou do rotaract, e até mesmo do rotary. Esse infeliz caso em específico, quando recebi a notícia, o primeiro impacto foi o número, apenas depois de algum tempo foi caindo a ficha de que estavamos perdendo muito mais do que apenas mais 5 pessoas no trânsito, e sim perdendo pessoas que estavam, direta ou indiretamente, no nosso convívio, que tinham tudo para ter um futuro e cada vez mais ajudar o mundo com sua força de vontade e seus conhecimentos adquiridos dia após dia, os que como eu não era tão próximo deles perdeu grandes amigos em potencial, a nossa família perdeu membros de valor e o mundo também entrou nessa dança, perdeu pessoas que se preocupava com ele.
    O texto que escreveu e as lembranças que escrevi é um aviso implicito do sr. destino nos dizendo que temos que aproveitar esse nosso tempo terreno da melhor forma possível, e agora vou parar de escrever pq os olhos já estão enchendo de lágrima e daqui a pouco não conseguirei mais controlar isso para não chamar a atenção.
    Aproveite os momentos da melhor e mais intensa maneira possível, pois as pessoas vão, isso é inevitável... mas as amizades, essas ficam para sempre!
    =***

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