A: Não se preocupe. É o filme dela que está queimando.
B: É tão difícil entender assim?
A: Entender o quê?
B: Que não importa se a gente tem gostos em comum, se ela
acha que somos feitos um para o outro. Isso não significa nada quando há o
reconhecimento de almas. E isso eu não tive com ela, simples assim.
A: Desconhecia esse teu lado da vida...
B: Não há lados, não é?
A: Você nunca escreveu algo tão romântico, nem quando
tentava descrever sentimentos passados...
B: Acontece.
A: Em quem você achou o que lhe falta?
B: Ainda não descobri. Quando o fizer, conto.
A: Não me parece algo encoberto
B: É de fato o que eu desejo, não?
A: E o que causou essa reflexão?
B: Não quero alguém que seja igual a mim, que goste das
mesmas coisas, mesmas músicas, que seja uma cópia da minha personalidade. Quero
alguém que complete minhas falhas, as minhas lacunas. Só assim é possível
sermos um só e não apenas dois iguais.
A: Você está tão mudado. Reflexões como essa sempre nos
fazem crescer, concorda?
B: Eu sempre busquei minha cópia. Eu me conheço o suficiente
para gostar de alguém que seja parecido. É confortável, não é? Você rejeita o
diferente porque não conhece, mas fica na mesmice eterna de conhecer sempre o
que já faz parte da sua vida.
A: Mas é sempre bom mudar...
B: E já estava na hora de transformar esse conceito. Eu achei que
esse dia nunca fosse chegar...